“Invisível, repetitivo, exaustivo, improdutivo, não
criativo”. É assim que Angela Davis descreve os intermináveis afazeres domésticos
femininos em seu livro "Mulheres, raça e classe".
No entanto, diz ela, tarefas como essas, executadas sob
condições técnicas primitivas, podem ser consideradas historicamente obsoletas diante
dos avanços tecnológicos atuais. Então, por que elas persistem?
Angela cita uma tese de Mariarosa Costa intitulada “Mulheres
e a subversão da comunidade”, de 1973. Segundo o estudo, “o caráter privado dos
trabalhos domésticos é uma ilusão”. A dona de casa parece servir apenas a sua
família, “mas os verdadeiros beneficiários dos seus serviços são os patrões do
seu marido e os futuros empregadores de seus filhos”.
A partir desta análise, Mariarosa propõe lutar por
remuneração salarial pelo trabalho doméstico. Afinal, diz ela, as donas de casa
são grandes responsáveis por produzir a força de trabalho, “mercadoria tão
importante e valiosa como aquelas que os seus maridos produzem no trabalho”.
Mas Angela não concorda com a proposta de assalariamento.
Para ela, é preciso tirar as mulheres de casa. Libertá-las de tarefas que fazem
sofrer e embotam o potencial humano da grande maioria delas.
Para isso é preciso criar amplas redes de creches, refeitórios
e escolas em tempo integral. Também é possível automatizar radicalmente as residências.
O livro é dos anos 1970. Mas no século 21, as casas inteligentes já são uma
realidade, ainda que para uma minoria.
Lutar por essas conquistas e por igualdade no âmbito do
trabalho pode ter um potencial revolucionário explosivo, afirma Angela. E é cada
vez mais necessário. Principalmente, quando governantes continuam a condenar as
mulheres ao “recato do lar”.
Leia também: A dignidade negra e feminista de
Sojourner Truth
Sergio, tudo de acordo em relação a tirar a mulher dessa tarefa. Agora, não dá pra acreditar que o desenvolvimento tecnológico resolva. Penso que a tarefa doméstica vai ser um compartilhamento da família:
ResponderExcluirpai, mãe e filhos maiores. Digo isso pra hoje.
Desenvolvimento tecnológico pra fazer isso tem de sobra, mas realmente não será ele que vai resolver porque a questão tem várias facetas, a começar pela política, mas também cultural, comportamental etc. E, claro, pra hoje, o compartilhamento já é um passo nessa direção, pequenino, até, mais que ainda encontra muita resistência.
ExcluirValeu!