O lendário livro “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García
Márquez, está completando meio século. Para muitos, a obra inaugurou o realismo
mágico. Um estilo artístico que apresenta elementos fantasiosos como parte do cotidiano.
Apesar disso, uma das passagens menos imaginárias e
marcantes do romance refere-se a um massacre ocorrido em Aracataca, cidade
colombiana onde nasceu o autor.
Era dezembro de 1928 e os trabalhadores da United Fruit haviam
entrado em greve. A poderosa multinacional americana não podia admitir tamanha
ousadia. Muitos dos grevistas foram fuzilados pelo exército. O total de mortos nunca
foi esclarecido, mas há quem diga que pode ter chegado a cinco mil.
O livro descreve a cena deste modo:
Estavam encurralados, girando num
torvelinho gigantesco que pouco a pouco se reduzia ao seu epicentro, porque os
seus bordos iam sendo sistematicamente recortados em círculo, como descascando
uma cebola, pela tesoura insaciável e metódica da metralha.
O único sobrevivente é o personagem José Arcadio Segundo,
que, na confusão, conseguiu fugir. Ao voltar mais tarde, fica surpreso quando descobre
que ninguém sabia do massacre. Tudo o que lhe dizem é: “Em Macondo não
aconteceu nada, nem está acontecendo nem acontecerá nunca. É um povoado feliz.”
No livro, Macondo representa Aracataca. Mas na vida real,
o pequeno povoado simboliza muitos outros lugares pelo mundo. Um mundo onde o
poder é exercido de modo cada vez mais solitário pelo grande capital, enquanto vai
multiplicando muitas vezes o número de suas vítimas.
Não à toa, Garcia Márquez costumava dizer: “Não há uma
linha nos meus livros que não seja realidade”.
Leia também: Populus,
o cão de Belchior
Lindo, reli recentemente. Da 1a vez que li, lembrava fortemente do personagem que as borboletas o acompanhavam. Na releitura, foi a greve. Forte, linda, impressionante.
ResponderExcluir