Paulo Leminski escreveu uma pequena biografia de Trótski,
lançada em 1986. Em 2013, a Companhia das Letras lançou “4 biografias (Cruz e
Souza, Bashô, Jesus e Trótski)”, que a incluía.
Na introdução à edição, Alice Ruiz, viúva do poeta,
explica porque Leminski teria escolhido o revolucionário russo para encerrar
sua tetralogia de biografias:
Trótski serve de pretexto para que
Paulo coloque sua visão, sua leitura pessoal sobre a Revolução Russa e sobre a
própria ideia de revolução. Mas por que Trótski e não qualquer outro mais
afortunado? Seria por sua fecunda habilidade com as palavras, por ser ele o
mais intelectual de todos, por seu afastamento do poder, por sua participação
na revolução? A soma de tudo isso e algo mais fez com que, apesar de
anarquista, o eslavo Leminski escolhesse Trótski. Além da afinidade com o
pensamento político e da profunda reflexão ideológica contida nesse trabalho,
que Paulo considerava a chave de ouro para sua série de biografias, havia algo
mais que o identificava com Trótski: o sentimento do exílio. Trótski exilado da
terra pela qual lutou é Moisés impedido de entrar na terra prometida que ele
ajudou a encontrar.
Paulo Leminski, a quem não interessava
nada que não contivesse ideias e poesia, viveu nessa vida como um exilado. Como
alguém que está fora do seu verdadeiro habitat. E precisa reinventar, através
de signos, símbolos, sonhos e palavras, um simulacro mais próximo de seu
conceito de vida. A poesia é como uma testemunha desse estranhamento.
Mas a biografia escrita por Leminski também é um
brilhante resumo da história da Revolução Russa. Voltaremos a ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário