Doses maiores

10 de maio de 2017

Possíveis intimidades entre o sexo e a morte

Sexo sai caro. Requer laboriosas programações genéticas para a ligação de cantares e danças, para produzir feromonas sexuais, para desenvolver armações heroicas utilizadas apenas para derrotar rivais, para estabelecer peças de engrenagem, movimentos ritmados e um entusiasmo mútuo pelo sexo.

O trecho acima é do livro “Sombras de antepassados esquecidos”, de Carl Sagan e Ann Druyan. Os autores, no entanto, defendem o sexo como um investimento que vale a pena. Não fosse pela reprodução sexuada, seríamos como as paramécias. Este microrganismo unicelular e assexuado tem milhões de anos, mas seus últimos exemplares são idênticos aos primeiros.

“Uma única bactéria reproduzindo-se duas vezes por hora deixará um milhão de gerações sucessivas durante o nosso tempo de vida”. Todas iguais. Portanto, estaríamos falando de espécies que desfrutam de uma certa imortalidade, afirmam os autores.

É verdade que a reprodução sexuada dá trabalho, mas ela “rejuvenesce o DNA, revigora a geração seguinte”. Permite a diversidade e as mutações que dão origem a espécies mais complexas. Além disso, deu origem ao indivíduo, resultado singular da união de outros indivíduos.

Por outro lado:

Há bilhões de anos foi estabelecido um acordo: os prazeres do sexo em troca da perda da imortalidade pessoal. Sexo e morte: não é possível ter o primeiro sem ter a última.

Pois é, se para o poeta o amor é infinito enquanto dure, a ciência, de seu modo nada romântico, também pode chegar a conclusões semelhantes em relação ao sexo. Mas, talvez, seja apenas uma forma bem diferente de abordar o conflito freudiano entre Eros e Thanatos.

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