Em meio ao crescente debate sobre inteligência artificial,
alguns trechos do livro “Homo Deus”, de Yuval Harari:
Um
dos mais importantes artigos sobre a filosofia da mente intitula-se “Como é ser
um morcego?”. Nesse artigo de 1974, o filósofo Thomas Nagel assinala que a
mente de um Sapiens não é capaz de conceber o mundo subjetivo de um morcego.
Podemos escrever todos os algoritmos que quisermos sobre o corpo do morcego,
seus sistemas de ecolocalização e seus neurônios, mas isso não vai nos explicar
como é sentir-se um morcego. Como ele se sente ao localizar por intermédio do
eco uma mariposa que bate suas asas?
(...)
Um
morcego poderia estabelecer a diferença entre uma espécie saborosa de mariposa
e uma espécie de mariposa venenosa a partir dos diferentes ecos que retornam de
suas asas esguias.
(...)
Assim
como o Sapiens não é capaz de compreender como é ser um morcego, temos
dificuldade semelhante em compreender o que é se sentir uma baleia, um tigre ou
um pelicano.
(...)
Baleias
também podem ter experiências musicais espantosas que nem mesmo Bach e Mozart
poderiam conceber (...). Mas será que qualquer humano seria capaz de
compreender essas experiências musicais e perceber a diferença entre uma baleia
Beethoven e uma baleia Justin Bieber?
Nada
disso deveria nos surpreender. Sapiens não governam o mundo por terem emoções
mais profundas ou experiências musicais mais complexas do que as de outros
animais. Podemos ser inferiores a baleias, morcegos, tigres e pelicanos, ao
menos em alguns domínios emocionais e empíricos.
Ou seja, não há artifício inteligente que dê conta de
nossa vasta ignorância.
Interessante. Realmente, como conclui, estamos muito distante ainda de entender a vida real.
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