“Eu sei quando maio começa, porque todo mundo quer saber
do povo negro”, diz Flávia Oliveira, em sua coluna no Globo de 11/05. “É o mês
da abolição e todo mundo quer debater o racismo”, afirma a jornalista antes de enfileirar
mais estatísticas demonstrando o cruel racismo brasileiro que grande parte do
País teima em não reconhecer.
E estatísticas também são parte importante de um dos
espetáculos de Marcelino Freire em cartaz no Sesc Copacabana. Trata-se de
“Contos Negreiros do Brasil”, que junto com “Um Sol de Muito Tempo” e “Balé
Ralé” formam a ocupação “Palavra Amassada Entre Os Dentes”, que homenageia o
escritor pernambucano.
A exposição dos números fica por conta do sociólogo e
filósofo Rodrigo França, acompanhada das ótimas interpretações de Li Borges e Milton
Filho. A direção é de Fernando Philbert.
“Contos Negreiros do Brasil” é o nome de um livro de Freire.
Na introdução da obra, o jornalista Xico Sá afirma que o autor:
...escreve como quem pisa no massapê,
chão de barro negro, como a fala preta amassada entre os dentes, no terreiro da
sintaxe, dos diminutivos dobrados nas voltas da língua...
As estatísticas pela milésima vez confirmam a violência
de todos os tipos que desaba sobre a população preta e não branca há séculos.
São dados que muito raramente apresentam alguma melhora. Mesmo assim, não
despertam mais que algumas palavras de lamento passageiro, murmuradas por
grande mídia e governantes. Exceções como Flávia Oliveira só confirmam a
regra.
Por enquanto, toda essa injustiça continua a ser remoída apenas entre os dentes. Até quando, não se sabe.
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