Doses maiores

5 de maio de 2017

Sobre generosidade e egoísmo

No livro “Sombras de antepassados esquecidos”, Carl Sagan e Ann Druyan especulam sobre uma possível predisposição genética ao altruísmo. Segundo alguns teóricos, quem ajuda ou salva seu semelhante estaria apenas protegendo os genes de sua espécie.

Mas como explicar que cães arrisquem a vida para salvar pessoas? Golfinhos já foram vistos ajudando banhistas “prestes a se afogar empurrando-os em direção à praia”. Será o golfinho incapaz de distinguir uma pessoa em perigo de um filhote de sua espécie? Altamente improvável.

Bebês humanos abandonados ou perdidos são criados por lobos. Motoristas desviam para não atropelar um cão, mesmo que isso ponha em risco a vida dos filhos que vão no banco traseiro.

“Tais exemplos de coragem e dedicação para com outra espécie podem advir de uma seleção de parentesco mal direcionada, mas acontecem mesmo e salvam vidas”, dizem os autores.

E concluem:

O egoísmo e o altruísmo inabaláveis são, parece-nos, as extremidades mal ajustadas de um continuum; a posição intermédia ótima varia segundo as circunstâncias e a seleção inibe os extremos. E, já que os genes têm tanta dificuldade em descobrir por si mesmos qual o meio-termo ótimo para cada circunstância nova que surge, não seria vantajoso para eles se delegassem a autoridade? Para isso, uma vez mais, são necessários cérebros.

Ou seja, quando a atividade cerebral alcança certa complexidade, seus portadores não precisam ser escravos de seus genes, seja em favor da solidariedade ou do egoísmo. Trata-se de escolhas. No caso da humanidade, construídas social e historicamente. A responsabilidade é nossa. Não dos cromossomos.

Aqueles que ainda apresentam alguma atividade cerebral significativa, entenderão.

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