No livro “Sombras de antepassados
esquecidos”, Carl Sagan e Ann Druyan especulam sobre uma possível predisposição
genética ao altruísmo. Segundo alguns teóricos, quem ajuda ou salva seu
semelhante estaria apenas protegendo os genes de sua espécie.
Mas como explicar que cães arrisquem a
vida para salvar pessoas? Golfinhos já foram vistos ajudando banhistas “prestes
a se afogar empurrando-os em direção à praia”. Será o golfinho incapaz de
distinguir uma pessoa em perigo de um filhote de sua espécie? Altamente improvável.
Bebês humanos abandonados ou perdidos
são criados por lobos. Motoristas desviam para não atropelar um cão, mesmo que isso
ponha em risco a vida dos filhos que vão no banco traseiro.
“Tais exemplos de coragem e dedicação
para com outra espécie podem advir de uma seleção de parentesco mal
direcionada, mas acontecem mesmo e salvam vidas”, dizem os autores.
E concluem:
O egoísmo e o altruísmo inabaláveis
são, parece-nos, as extremidades mal ajustadas de um continuum; a posição
intermédia ótima varia segundo as circunstâncias e a seleção inibe os extremos.
E, já que os genes têm tanta dificuldade em descobrir por si mesmos qual o
meio-termo ótimo para cada circunstância nova que surge, não seria vantajoso
para eles se delegassem a autoridade? Para isso, uma vez mais, são necessários
cérebros.
Ou seja, quando a atividade cerebral alcança
certa complexidade, seus portadores não precisam ser escravos de seus genes, seja
em favor da solidariedade ou do egoísmo. Trata-se de escolhas. No caso da
humanidade, construídas social e historicamente. A responsabilidade é nossa. Não
dos cromossomos.
Aqueles que ainda apresentam alguma
atividade cerebral significativa, entenderão.
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