O inglês David Harvey é um dos intelectuais marxistas mais
influentes da atualidade. Em entrevista publicada pelo portal "Outras Palavras", em
30/05, ele pergunta:
...o que faz com que cada modo de
produção dominante, com sua configuração política particular, crie um modo de
oposição que se constitui em seu reflexo? À época da organização fordista da
produção, o reflexo era um movimento sindical centralizado e partidos políticos
baseados no centralismo democrático. À época neoliberal, a organização da
produção para uma acumulação flexível produziu uma esquerda que é também, na
verdade, seu reflexo: trabalho em redes decentralizadas, não hierarquizadas.
Penso que é muito interessante. E até certo ponto, o reflexo do espelho valida
o que tentava destruir. O movimento sindical, assim, sustentou o fordismo.
Penso que neste momento muita gente à
esquerda, sendo muitos autônomos e anarquistas, reforçam na verdade o
neoliberalismo em seu jogo final. Muita gente de esquerda não quer saber dessa
afirmação. Mas a pergunta que se coloca é, evidentemente: haverá um meio de se
organizar que não seja no espelho do neoliberalismo? Podemos quebrar esse
espelho e organizar qualquer outra coisa, que não jogue o jogo do
neoliberalismo?
Realmente, o reflexo do fordismo nos deu muitas organizações
de esquerda burocratizadas e hierarquizadas segundo o autoritarismo das fábricas.
Já na atual configuração neoliberal, o maior risco é a
dispersão. Afinal, à frouxidão e flexibilidade de movimentos do capital a que assistimos
corresponde um aparato de exploração e repressão dos mais injustos, centralizados
e antidemocráticos.
Quebrar esse tipo de espelho deve fazer parte das tarefas
das forças revolucionárias. Dá azar, mas só para nossos inimigos.
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