Doses maiores

13 de abril de 2018

O desprezo ultraesquerdista às tradições de luta

No livro “Marx Estava Certo”, Terry Eagleton conta que, ao ser perguntado sobre como chegar a uma estação ferroviária, um cidadão responde: “Bem, eu não partiria daqui.”

A frase poderia resumir a situação da Rússia alguns anos após a Revolução de 1917. Diante da perspectiva de “construir o socialismo num país sitiado, isolado e semi-indigente”, a conclusão seria: “Bem, eu não partiria daqui.”

Mas quando se trata de situações históricas, diz o autor, não existe um lugar ideal de onde partir. E continua:

Marx escreve em “Crítica ao Programa de Gotha” sobre como a nova sociedade estará marcada com os sinais de nascença da velha ordem de cujo útero emerge. Assim, não existe um ponto “puro” a partir do qual começar. Acreditar em sua existência é a ilusão do chamado ultraesquerdismo.

E os ultraesquedistas, afirma Eagleton:

...em seu fanatismo revolucionário, se recusam a ter algo a ver com as ferramentas comprometidas do passado: reforma social, sindicatos, partidos políticos, democracia parlamentarista e daí por diante, conseguindo, assim, acabar de forma tão imaculada e impotente.
(...)

As políticas emancipadoras inserem o primeiro passo do futuro no coração do presente. Elas representam uma ponte entre o presente e o futuro, o ponto onde os dois se cruzam. E ambos são alimentados pelos recursos do passado, no sentido das preciosas tradições políticas que precisam de luta para ser mantidas vivas.

(...)

A história precisa ser rompida e refeita — não porque os socialistas arbitrariamente preferem a revolução à reforma, sendo bestas sedentas de sangue surdas à voz da moderação, mas devido à gravidade da doença que precisa ser curada.

Leia também: Marx e a natureza humana

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