No
livro “Marx Estava Certo”, Terry Eagleton conta que, ao ser perguntado sobre
como chegar a uma estação ferroviária, um cidadão responde: “Bem, eu não
partiria daqui.”
A
frase poderia resumir a situação da Rússia alguns anos após a Revolução de 1917.
Diante da perspectiva de “construir o socialismo num país sitiado, isolado e
semi-indigente”, a conclusão seria: “Bem, eu não partiria daqui.”
Mas
quando se trata de situações históricas, diz o autor, não existe um lugar ideal
de onde partir. E continua:
Marx escreve em “Crítica ao Programa de Gotha” sobre
como a nova sociedade estará marcada com os sinais de nascença da velha ordem
de cujo útero emerge. Assim, não existe um ponto “puro” a partir do qual
começar. Acreditar em sua existência é a ilusão do chamado ultraesquerdismo.
E
os ultraesquedistas, afirma Eagleton:
...em seu fanatismo revolucionário, se recusam a ter
algo a ver com as ferramentas comprometidas do passado: reforma social,
sindicatos, partidos políticos, democracia parlamentarista e daí por diante,
conseguindo, assim, acabar de forma tão imaculada e impotente.
(...)
As políticas emancipadoras inserem o primeiro passo do
futuro no coração do presente. Elas representam uma ponte entre o presente e o
futuro, o ponto onde os dois se cruzam. E ambos são alimentados pelos recursos
do passado, no sentido das preciosas tradições políticas que precisam de luta
para ser mantidas vivas.
(...)
A história
precisa ser rompida e refeita — não porque os socialistas arbitrariamente
preferem a revolução à reforma, sendo bestas sedentas de sangue surdas à voz da
moderação, mas devido à gravidade da doença que precisa ser curada.
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