A quinta vereadora mais votada da segunda
maior cidade do País é executada. Ela era negra, feminista, homossexual,
favelada e socialista. Muito provavelmente, foi esse perfil de Marielle que a
transformou em alvo.
Lula foi preso, sob acusações muito
menos graves que aquelas dirigidas a dezenas de outros governantes e
parlamentares, incluindo o atual presidente da República.
Os direitos trabalhistas foram destruídos
e os previdenciários estão na alça de mira, assim como a saúde pública. A
maioria das propostas de reforma política em discussão no Congresso concentra-se
na restrição à representação popular.
Fala-se em crise da Nova República. O arranjo
que permitiu o retorno de eleições e liberdades políticas básicas estaria se
esgotando. Enquanto isso, permanece firme o acordo que manteve intacto o aparato
policial-militar da ditadura.
Talvez seja o caso de lembrar o conceito
de “democracia racionada”, criado por Carlos Marighella para descrever:
...os regimes brasileiros que não são exatamente uma
ditadura aberta, mas que também não se tornam democráticos. Assim, podemos
definir a democracia racionada como uma forma semilegal em que a violência
contra os pobres e os opositores se combina com ações autoritárias dentro da
legalidade e os escassos direitos são distribuídos a conta gotas para os
setores mais moderados da oposição.
Na
última vez em que essa democracia à base de pequenas rações foi interrompida,
uma brutal repressão empurrou alguns setores da esquerda para a luta armada e
levou outros a mergulhar no trabalho de base clandestino. Aumentou ainda mais a
violência contra os pobres, sob o pretexto de combater a desordem social.
Nossa
democracia sempre foi um banquete para muito poucos.
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