Doses maiores

6 de abril de 2018

Os erros do PT também são nossos

Em seu livro "A Esquerda e o Golpe de 64", Denis de Moraes lembra como o PCB considerava impossível a derrubada de Jango, até as vésperas de sua queda.

Os comunistas, Luís Carlos Prestes à frente, acreditavam no chamado “dispositivo militar” e na resposta rápida e implacável do movimento sindical para impedir qualquer tentativa de reação conservadora.

Golpistas seriam derrotados pelas tropas comandadas por generais legalistas. Uma greve geral paralisaria o País.

O dispositivo militar funcionou, mas a favor do golpe. A reação sindical limitou-se a algumas paralisações localizadas.

Quando o PT surgiu, grande parte do partido insistia na necessidade de não mais cometer erros tão trágicos. Jamais confiar novamente em inimigos como os membros do alto comando militar estatal. Descuidar do trabalho de base junto aos trabalhadores, nunca mais.

Mas quando o PT chegou ao governo federal acreditou que havia tomado o poder.

Negou-se a democratizar os meios de comunicação, esperando a gratidão dos monopólios do setor. Recusou-se a levar os criminosos militares a julgamento. Confiou em suas nomeações no Supremo Tribunal.

Comprou o apoio da pior parte do movimento sindical mantendo a estrutura burocratizada e pelega. Trocou a Reforma Agrária pela aposta no agronegócio.

Imaginou que poderia utilizar os mesmos métodos sujos de seus inimigos de classe, contando com a mesma impunidade. Sentou à mesa de seus carrascos e aceitou alegremente o veneno oferecido.

O momento é de resistência e solidariedade, mas é impossível ignorar tantos e tão graves equívocos. Como eles não começaram com a posse de Lula em 2003, muitos de nós também são responsáveis por eles.

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2 comentários:

  1. Nós quem, Brutus? Eu sei...rsss. Pois bem, fico pensando nos nossos erros. Sei que a gente se revolta quando vê os erros e a crença do PT nas instituições burguesas. A vontade de falar é: acreditaram, pois bem, agora fiquem com elas. Mas o pior é que o segundo golpe também nos atinge. E o que erramos, Sergio? Acreditar que o PT pudesse ser a força que poderia impulsionar as transformação por uma sociedade socialista? Não, não acho que isso, principalmente para nós (talvez o único erro que não cometemos) que sabíamos das limitações do PT de caminhar neste sentido. De não ter disputado o movimento de massas? Sim, mas não sei se tínhamos essa força, alias, não tínhamos força alguma e, vamos ser sinceros, como agora. Triste e revoltados, hoje, estamos sim. Bjs.

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  2. É, mais ou menos, isso aí, Marião. Quando falo em nós, refiro-me aos setores da esquerda que sempre questionaram o projeto lulista, mas foram incapazes de construir um caminho próprio. Ficamos ladrando e a caravana falida passando... Então, também não dá pra ficar naquela de “não falei!!”. Enfim, de qualquer jeito e sem racionalizar muito, bem triste esse desfecho.

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