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trechos de “Marx Estava Certo”, livro do marxista britânico
Terry Eagleton, publicado originalmente em 2011. Agora, sobre a
existência ou não de uma natureza humana:
...alguns
marxistas insistem em que não existe uma essência imutável nos
seres humanos. Em sua opinião, é nossa história, não nossa
natureza, que nos faz ser o que somos, e, como a história tem tudo a
ver com mudança, podemos nos transformar alterando nossas condições
históricas. Marx não era adepto integral desse argumento
“historicista”.
(...)
No
volume I de “O capital”, Marx fala da “natureza humana em geral
e depois (...) conforme modificada em cada época histórica”.
(...)
Os
seres humanos, por exemplo, nascem todos “prematuramente”.
Durante muito tempo após o nascimento, são incapazes de cuidar de
si mesmos, tendo necessidade, em consequência, de um prolongado
período de assistência
(...)
Ainda
que os cuidados recebidos sejam péssimos, os bebês logo assimilam
uma noção do que é cuidar dos outros. Esse é um dos motivos por
que, mais tarde, talvez sejam capazes de identificar todo um estilo
de vida como insensível às necessidades humanas. Nesse sentido,
podemos passar do nascimento prematuro para a política.
(...)
...é
um erro pensar que a ideia de natureza humana não passa de uma
apologia do “status quo”. Ela também pode agir como um poderoso
desafio a ele.
(...)
Somente
por meio dos outros podemos, enfim, ser nós mesmos. Isso significa
um enriquecimento, e não uma redução, da liberdade individual. É
difícil pensar numa ética mais perfeita. Em nível pessoal,
chamamos a isso amor.
Mais
do que concordar com essa concepção, precisamos apostar nela.
Leia
também: Para
Marx, o socialismo não era inevitável
"Somente por meio dos outros podemos, enfim, ser nós mesmos. Isso significa um enriquecimento, e não uma redução, da liberdade individual. É difícil pensar numa ética mais perfeita. Em nível pessoal, chamamos a isso amor." Bonito, hem!
ResponderExcluirBonito!
ResponderExcluirConversando: notei aí uma significativa influência do pensamento psicanalítico - uma psicanálise critica, histórica, é bem verdade. Freud sempre insistiu nessa prematuridade, assim como na historicidade do Eu. A formação do Eu é um processo sensorial e histórico. Dos primeiros momentos desse processo, anteriores à aquisição da linguagem, muito se perde: da 'história' restam fragmentos e cacos, daí Freud associar uma parte do trabalho psicanalítico ao do arqueólogo... Reich vai fundo nessa visada, a ponto de propor que o princípio de prazer - assim como o de realidade - muda com a história... Hélio Pellegrino, em 'Édipo e a paixão', tem passagens belíssimas sobre essa prematuridade que Eagleton está a enfatizar. bela matéria, Sérgio, como sempre! abração
ResponderExcluirSim, Alexandre. Debate muito interessante e mais importante do que se supõe.
ExcluirMais uma vez, obrigado pelos comentários.
Abração