Em agosto de 1889, D.
Pedro II concedeu o título de barão de São Clemente ao fazendeiro Antônio
Clemente Pinto. Honraria concedida por ter sido o primeiro plantador de café no
estado fluminense a liberar seus escravos antes da Abolição.
Mas há boatos maliciosos
sobre a generosa atitude. Clemente Pinto é próxima da família real. Nessa condição,
teria sabido, em primeira mão, que a escravidão negra já tinha os dias contados,
logo no início de 1888.
Em seu romance “Memorial
de Aires”, Machado teria criado o personagem barão de Santa-Pia inspirado em
Clemente Pinto. Tal como este, ele também liberta seus escravos, mas explica
seu ato muito claramente. Referindo-se à abolição, afirma:
Quero
deixar provado que julgo o ato do governo uma espoliação, por intervir no
exercício de um direito que só pertence ao proprietário, e do qual uso com
perda minha, porque assim o quero e posso.
E o barão de Santa-Pia
complementa:
Estou
certo que poucos deles deixarão a fazenda; a maior parte dos homens livres
ficará comigo, ganhando o salário que lhes vou marcar, e alguns até sem nada —,
pelo gosto de morrer onde nasceram.
De fato, o narrador conta
que os ex-escravos de Clemente Pinto ficaram tão agradecidos com o “gesto
misericordioso” do fazendeiro que se recusaram a receber os salários da
colheita seguinte de café.
Desde então, mudou pouco
a forma como funciona a dominação de classe entre nós.
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