Doses maiores

30 de maio de 2018

A humanidade e suas tentações suicidas

O título do livro “The Patterning Instinct”, de Jeremy Lent, pode ser traduzido por “Instinto padronizador”. Segundo o autor, ao contrário de outros mamíferos, nós possuímos um “apetite insaciável” por encontrar significados no mundo à nossa volta.

Este “apetite” seria instintivo porque emergiu em nossa espécie antes do aprendizado cultural. Segundo pesquisas neurológicas recentes, a região cerebral chamada córtex pré-frontal (CPF) seria a responsável por essa característica tão especial.

Fome, desejos sexuais, dor, agressão, cuidados com a prole seriam exemplos de experiências cognitivas que partilhamos com muitos outros animais.

Já coisas como conversar, ler, planejar a aposentadoria ou fazer música envolveriam modos de pensamento mediados pelo CPF. Formariam nossa consciência conceitual, responsável pelas mediações necessárias à nossa capacidade de planejar, conceituar, simbolizar, criar regras e impor significados.

Lent cita o antropólogo Clifford Geertz, para quem somos um animal cujo “esforço para compreender a experiência, para dar forma e ordem, é evidentemente tão concreta e urgente quanto as mais importantes necessidades biológicas”. Uma definição muito próxima à dos marxistas.

E de modo semelhante a Marx, Lent não acredita que os padrões criados por esse “instinto” seriam resultado inevitável da natureza humana. Para ele, nossa situação atual também é motivada culturalmente e produto de estruturas de pensamento que poderiam ser reformuladas.

Mais especificamente, o autor está preocupado com o fato de que nossa espécie vem colocando em risco a própria sobrevivência. Mas se nega a aceitar isso como resultado necessário e imutável das imposições de nosso “instinto padronizador”. 

É como se ele dissesse “Outra humanidade é possível. Sem essa de instinto suicida!”

Voltaremos ao tema nas próximas pílulas.

Leia também: A origem da propriedade privada e dos ângulos retos

3 comentários:

  1. Mudou de autor mas continua na linha do "Marx estava certo". Bom.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Sim, mas o interessante é que Marx não só não aparece na bibliografia, como a única vez que é citado é sob a acusação de que compactuava com a lógica ocidental produtivista. Não digo que algumas ideias de Marx não tenham resvalado pra esse lado, mas o conjunto de sua obra e muitos de seus seguidores não caminham nessa direção. Valeu!

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