Quando Bauer, o de pés ligeiros, se apoderou da
cobiçada esfera, logo o suspeitoso Naranjo lhe partiu ao encalço, mas já
Brandãozinho, semelhante à chama, lhe cortou a avançada. A tarde de olhos
radiosos se fez mais clara para contemplar aquele combate, enquanto os agudos
gritos e imprecações em redor animavam os contendores. A uma investida de
Cárdenas, o de fera catadura, o couro inquieto quase se foi depositar no arco
de Castilho, que com torva face o repeliu. Eis que Djalma, de aladas plantas,
rompe entre os adversários atônitos, e conduz sua presa até o solerte Julinho,
que a transfere ao valoroso Didi, e este por sua vez a comunica ao belicoso
Pinga. A essa altura, já o cansaço e o suor chegam aos joelhos dos combatentes,
mas o Atrida enfurecido, como o leão que, fiado na sua força, colhe no rebanho
a melhor ovelha, rompendo-lhe a cerviz e despedaçando-a com fortes dentes, para
em seguida sorver-lhe o sangue e as entranhas — investe contra o desprevenido
Naranjo e atira-o sobre a verdejante relva calcada por tantos pés celestes. Os
velozes Torres, Lamadrid e Arellano quedam paralisados, tanto o pálido temor os
domina; e é quando o divino Baltasar, a quem Zeus infundiu sua energia e
destreza, arremete com a submissa pelota e vai plantá-la, como pomba mansa,
entre os pés do siderado Carbajal…
Assim gostaria eu de ouvir a descrição do jogo entre
brasileiros e mexicanos, e a de todos os jogos: à maneira de Homero...
Felizmente,
ninguém atendeu-lhe o pedido.
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Muito legal. Vou revelar - mediante ao que considero um conhecimento daquelas pessoas de tempos idos, ou de outros, que se aprofundam no conhecimento do esporte bretão -, aquilo que considero um enigma, quem é o jogador citado: "Djalma, de aladas plantas". Trata-se de Djalma Santos, lateral direito da seleção, e do Palmeiras. E vou além, cito um caso deste jogador (não vou na internet para conferir, o caso em si, independente de ser verídico, tem seu valor histórico sobre o preconceito). O Djalma Santos, por sua posição de jogador, e nos campos de antigamente onde ficava muito próximo o alambrado do campo, estava em um jogo recebendo xingamentos constantes de um torcedor, tipo: "oh seu preto filho da puta", "o chipanzé" etc. Não contente, este torcedor, enfiando a mão entre as grades do alambrado, tenta agredi-lo. Ao tentar, cai de seu dedo a aliança, e vai parar no campo. O Djalma Santos pega a aliança e devolve ao torcedor. Narrando novamente o caso ouvido só posso pensar em ser invenção. Mas uma invenção que demonstra o racismo estúpido dos torcedores na época (e ainda hoje, como sabemos), e a atitude, também racista, esperada como resposta sobre o racismo.
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