Doses maiores

21 de maio de 2018

O ateísmo espiritual de Marx

“O marxismo é um materialismo filosófico que nega tudo que não seja átomos e por isso reduz os homens à condição ontológica de pedras”.

Esta é mais uma acusação que Terry Eagleton procura refutar no livro “Marx estava certo”.

Claro que Marx era ateu, diz o autor:

...mas não é preciso ser religioso para ser espiritual, e alguns dos grandes temas do judaísmo — a justiça, a emancipação, o reino da paz e da abundância, o dia da prestação de contas, a história como uma narrativa de libertação, a redenção não apenas do indivíduo, mas de todo um povo destituído — embasam sua obra de forma convenientemente secularizada. Ele também herdou a hostilidade judaica aos ídolos, aos fetiches e às ilusões escravizadoras.

Em outras passagens do livro, Eagleton afirma:

O materialismo marxista não é um conjunto de declarações sobre o cosmos, do tipo “Tudo é feito de átomos” ou “Deus não existe”, mas uma teoria sobre como funcionam os animais históricos.

(...)

O espiritual tem a ver com o outro mundo, mas não o outro mundo conforme o concebiam os clérigos, e sim outro mundo que os socialistas esperam construir no futuro, para substituir aquele que nitidamente esgotou seu prazo de validade. Qualquer um que não seja do outro mundo nesse sentido obviamente não deu uma boa olhada à sua volta.

(...)

Quem costuma ver as questões espirituais como um domínio arrogantemente apartado da vida cotidiana são os burgueses prósperos, pois necessitam de um lugar para se esconder do próprio materialismo crasso.

Não à toa, a sabedoria popular costuma condenar o materialismo como um pecaminoso apego às riquezas.

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2 comentários:

  1. Sobre o tema indico um programa radiofônico de um frade dominicano (Rui Manuel Grácio das Neves) que conheci em Portugal recentemente: https://www.youtube.com/watch?v=RmtGNQRrxCk

    Ele é um cara bem interessante, vale a pena acompanhar suas excelentes contribuições.
    Militou nas CEBs no Brasil nos anos 1980 depois realizou trabalhos também na Índia.

    Abraço
    Bruno

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