Doses maiores

18 de maio de 2018

O combate a Bolsonaro e outros “esquisitões”

“Western, educated, industrialized, rich, and democratic societies”. Em português, “Sociedades ocidentais, escolarizadas, industrializadas, ricas e democráticas”. Em inglês, as palavras formam o acrônimo “Weird”, cuja tradução é “esquisito”, “estranho”.

Esse conceito costuma ser utilizado por estudiosos de vários ramos científicos devido a distorções que causa em muitas amostragens e levantamentos científicos. Brancos, escolarizados, ricos e “cidadãos” representam quanto da população mundial? Certamente uma minoria bem pequena.

No entanto, é este público que muitos experimentos científicos tratam como representantes da humanidade. E não só nas ciências humanas. Já houve casos de medicamentos testados e aprovados para esse perfil populacional apresentarem graves efeitos colaterais em pessoas latinas, negras, asiáticas etc.

Mas na política e na luta de classes, muitos de nós, e por muito tempo, também adotamos essa partícula da raça humana como universal. Tratamos largos extratos demográficos como “minorias”. Políticas que consideramos universais, na verdade, desprezam dimensões fundamentais da vida e, principalmente, do sofrimento humanos.

Exemplo óbvio é o desprezo pelas questões femininas, raciais, homoafetivas em nome de um combate que considera “soldados preparados para a luta” apenas os operários, homens, heterossexuais e que permanecem alheios à discriminação racial que sofrem.

É verdade que o problema oposto também ocorre. Lutas setoriais abandonam completamente o combate ao caráter totalizante do domínio de classe. Mas nunca foi fácil lidar de forma dialética com as relações entre o particular e o geral. E, no entanto, é fundamental partir dessa compreensão para atuar na luta de classes.

Do contrário, continuaremos sendo derrotados por esquisitos e esquisitões da direita. E não apenas por aquele que, hoje, é o maior deles entre nós.

Leia também: A derrota de Bolsonaro não seria necessariamente uma vitória

Um comentário:

  1. Nesse sentido, acho que o capitalismo apresenta um projeto de docilização tanto da esquerda operária, quanto da identitária. Ainda não entendemos isso. De um lado, uma esquerda que reivindica a tradição operária, mas se esquecer de formular e intervir na luta de classes, nas categorias mais exploradas pelo Capital, uma esquerda operária voltada para a disputa de aparatos burocráticos e resumidos à lutas corporativas e econômicas, sem uma projeto revolucionário como horizonte. De outro lado, também sem um projeto revolucionário como horizonte, movimentos identitários cada vez mais divididos em suas demandas específicas, sem um ponto em comum, disputando o Estado burguês e seus tentáculos em nossa vida cotidiana. Bom exemplo disso foi o casamento da família real inglesa... Enfim. Tenho pleno acordo com suas palavras, mas ando desanimado e incrédulo. Parece mesmo que fomos derrotados, pq não conseguimos pensar fora dos parâmetros democráticos burguesas. Nem as massas e nem a auto intitulada vanguarda...

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