O
Brasil foi o último [país a abolir a escravidão] porque foi o que mais importou
africanos - 46% de todos que foram trazidos coercitivamente para as Américas.
Esse volume assombroso de africanos que chegou aqui acorrentado era considerado
propriedade privada. Isso cria uma dinâmica em que a propriedade escrava era
muito importante. Muita gente tinha escravos. Nas cidades havia gente remediada
que tinha um ou dois escravos. Os estudos mostram que a propriedade escrava no
Brasil era muito mais difundida que na Jamaica ou no Sul dos Estados Unidos.
Estas
palavras são do historiador Luiz Felipe de Alencastro, em entrevista publicada pela BBC Brasil, em 13/05/2018. Ele também informa que
a proposta de uma reforma agrária que assegurasse terra aos libertos pela
Abolição permaneceu engavetada.
Ou seja, o fim da escravidão
ocorreu não como libertação, mas como descarte de ferramentas obsoletas.
Segundo estudo do Instituto Igarapé divulgado em 26/04/2018,
a América Latina abriga 8% da população mundial, mas concentra 33% dos
homicídios globais. Das 50 cidades mais violentas, 43 estão localizadas na região.
Entre as dez primeiras, três brasileiras: Marabá, São Luís do Maranhão e
Ananindeua. A grande maioria das vítimas, pretas e pobres.
Do confronto das informações
acima podemos deduzir que os enormes índices de violência no Brasil não ocorrem
apenas porque somos uma das sociedades mais injustas do mundo, ainda que uma das
mais ricas.
Na verdade, vivemos sob
uma lógica social que trata uma enorme parte da população como coisa, há séculos.
E quando coisas já não servem, são descartadas. É isso que continuamos fazendo
com as vidas de negros e indígenas.
Leia também:
Abolição:
a liberdade como castigo
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