Doses maiores

3 de outubro de 2018

O proletariado nasceu mulher

Sobre a presença feminina entre os setores explorados merece destaque um trecho do livro “Marx estava certo”, de Terry Eagleton:

...o proletariado original não era a classe operária, mas as mulheres de classe baixa na sociedade antiga. O termo “proletariado” vem da palavra latina “prole”, referindo-se àquelas que eram pobres demais para servir ao Estado com algo além de que seus úteros. Desprovidas para contribuir para a vida econômica de qualquer outra forma, essas mulheres produziam mão de obra na forma de filhos. Nada tinham para entregar, salvo o fruto de seus corpos. O que a sociedade demandava delas não era produção, mas reprodução. O proletariado começou a vida entre os alijados do processo de trabalho, não entre os que faziam parte dele (...). Hoje, na era das “sweatshops” do Terceiro Mundo e do trabalho agrícola, a proletária típica continua a ser a mulher. O trabalho colarinho-branco, que na época vitoriana era desempenhado, em sua maioria, por homens da classe média baixa, hoje se encontra, basicamente, confinado a mulheres, que, em geral, recebem menos do que operários braçais sem qualificação. Foram elas, também, que em grande parte preencheram as vagas decorrentes da enorme expansão das atividades em lojas e escritórios, surgidas com o declínio da indústria pesada após a Primeira Guerra Mundial. Na própria época de Marx, o maior grupo de trabalhadores assalariados não era a classe operária industrial, mas a dos empregados domésticos, dos quais a maioria era formada por mulheres.

Essa enorme importância jamais se viu representada na mesma proporção em nossas “vanguardas”. Ajuda a explicar porque tanta coisa vem dando tão errado.

Leia também:
A luta de classes tem que ser feminista

Nenhum comentário:

Postar um comentário