No
livro “As Benevolentes”, Jonathan Littell conta as memórias fictícias de um ex-comandante
de um campo de concentração nazista. Cruel e cínico, ele diz coisas como:
Assim como, segundo Marx, o operário é alienado em
relação ao produto de seu trabalho, no genocídio ou na guerra total sob sua
forma moderna o executor é alienado em relação ao produto de sua ação.
Nas
câmaras de gás, por exemplo:
O trabalhador que abre a torneira do gás, portanto
aquele mais próximo do assassinato no tempo e no espaço, executa uma função
técnica sob o controle de seus superiores. Os operários que esvaziam a câmara
fazem um trabalho necessário de desinfecção...
(...)
O controlador de tráfego ferroviário, por exemplo, é
culpado pela morte dos judeus desviados por ele para determinado campo? Ele
orienta os trens segundo um plano, não é obrigado a saber quem está lá dentro.
Citando
alguns nazistas condenados em Nuremberg:
Sem os Höss, os Eichmann, os Goglidze, os Vychinski,
mas também sem os controladores de tráfego ferroviário, os fabricantes de
cimento e os amanuenses dos ministérios, um Stalin ou um Hitler não passam de
um odre estufado de ódio e terrores impotentes.
(...)
Nossos subúrbios tranquilos pululam de pedófilos e
psicopatas, nossos albergues noturnos, de destrambelhados megalômanos. Mas os
homens comuns de que o Estado é constituído – sobretudo em épocas instáveis –,
eis o verdadeiro perigo...
(...)
Eckhart escreveu: Um anjo no Inferno voa na sua
própria nuvenzinha de Paraíso. Sempre compreendi que o inverso também devia ser
verdade, que um demônio no Paraíso voaria no seio da sua própria nuvenzinha de
Inferno.
Leia também:
Amarildo e a banalidade do mal
Muito bom. Estou pensando muito nisso e com vontade de escrever: a rede de apoio que cerca o fascismo e seus executores principais. Abraço.
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