Doses maiores

30 de abril de 2019

Conclusões incômodas sobre a esquerda no governo

Pawel Kaczynsku
Em recente entrevista publicada no portal argentino Página 12, o filósofo francês Jacques Rancière apresenta conclusões tão interessantes quanto polêmicas. Por exemplo:

Hoje, vemos claramente que nem os partidos revolucionários, nem os sindicalizados chegaram a ganhar algo. Não. Quando há medidas que vão contra o trabalho, o mais eficaz não é a ação dos sindicatos, mas, sim, a dos movimentos autônomos como os indignados (...) ou os coletes amarelos.

Outra afirmação controversa diz respeito à recente onda de ascenso da extrema-direita:

Para mim, o maior fenômeno não é o de uma extrema direita que retorne após ter permanecido escondida. Não. O essencial é como a direita tradicional foi para os extremos. Na medida em que a esquerda implementa a mesma política econômica e social que a direita, a direita teve que buscar uma figura específica para existir. É por isso que a direita precisa se radicalizar e apelar para toda uma série de instintos e paixões que há 30 anos não necessitava. Antes, a direita se apresentava como uma força de centro, meio liberal, meio modernista. Agora, isso acabou. Para existir no parlamento, devem se radicalizar. Por isso, não penso que a extrema direita seja uma expressão das classes populares. Essa é a análise oficial. O auge da extrema direita se deve à radicalização da direita. Desconfio da ideia acerca de um suposto enraizamento popular da extrema direita.

Conclusões como esta incomodam porque se recusam a jogar toda a culpa no “eleitorado” ou no inimigo e chamam a esquerda a se responsabilizar por seus próprios erros. Principalmente, a esquerda que ocupa ou ocupou governos.

Leia também: A caricatura que aprisiona a esquerda

2 comentários:

  1. Cada parágrafo um monte de debates. Telegraficamente. Sim, acho que a ação de contestação do sistema está mais para os movimentos sociais do que para os sindicatos. Não, não acho que está existindo um deslocamento da direita para a extrema direita, esta já existia e aí sim estava camuflada. Mais ou menos (rsss..) não cabe a esquerda que ocupou o poder ter mais responsabilidade, posição muito comoda da esquerda que não conseguiu chegar ao poder (ou chegou e mudou?) fazer esta crítica. Responsabilizar inimigo ou eleitorado dele é bobagem mesmo. Bjs.

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    1. Cada parágrafo um monte de debates. Telegraficamente. Sim, acho que a ação de contestação do sistema está mais para os movimentos sociais do que para os sindicatos.

      Certo, mas entendi que ele também contrapôs os movimentos sociais aos “efêmeros”. Então, é mais complicado.

      Não, não acho que está existindo um deslocamento da direita para a extrema direita, esta já existia e aí sim estava camuflada.

      Podia até estar camuflado, mas politicamente, valia a camuflagem. Coisa que foi abandonada graças ao fato de que as esquerdas no governo tomaram medidas tipicamente capitalistas ao mesmo tempo em que defendiam com unhas e dentes o regime democrático como se ele fosse garantia contra a direita e sinônimo de bem-estar para todos.

      Mais ou menos (rsss..) não cabe a esquerda que ocupou o poder ter mais responsabilidade, posição muito comoda da esquerda que não conseguiu chegar ao poder (ou chegou e mudou?) fazer esta crítica.

      Esta é uma pergunta? O que acho é que a esquerda que já foi ou ainda é governo tem mais responsabilidade, sim. Principalmente, quando, repetindo o que está mais acima, tomaram medidas tipicamente capitalistas ao mesmo tempo em que defendiam com unhas e dentes o regime democrático como se ele fosse garantia contra a direita e sinônimo de bem-estar para todos. Sem falar nas medidas de repressão que aperfeiçoaram, como a lei antiterrorismo de iniciativa de Dilma e cia.

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