No livro “Matadouro 5”,
Kurt Vonnegut o personagem principal viaja no tempo, pelas galáxias e faz
contato com extraterrestres. Num deles, o ET queria saber “por que é que era
tão fácil para os cristãos serem cruéis”. Ele mesmo estudou o caso e concluiu
que pelo menos parte do problema estava no modo como o Novo Testamento era
narrado.
O defeito das histórias
de Cristo, disse o visitante intergaláctico, era que:
Cristo,
cuja aparência não era lá essas coisas, era, na realidade, Filho do Ser Mais
Poderoso do Universo. Os leitores compreendiam isso, de modo que, quando
chegavam à crucificação, pensavam (...): — Puxa vida, daquela vez pegaram o
sujeito errado para linchar.
E
essa ideia levava a um outro pensamento: "Existe gente certa para
linchar". Quem? Gente sem amigos influentes...
Foi então que o
extraterrestre deu de presente à Terra um novo Evangelho. Na versão do ET,
Jesus realmente era um joão-ninguém que “disse todas aquelas coisas lindas e
enigmáticas que dizia nos outros Evangelhos”. Mas também “aporrinhava um bocado
de gente com amigos mais influentes do que ele”. De modo que um dia esse
pessoal resolveu “se divertir pregando-o à cruz”. O problema é que:
...pouco
antes do joão-ninguém morrer, os céus se abriram e houve trovões e relâmpagos.
A voz de Deus ribombou do firmamento. Disse ao povo que estava adotando aquele
vagabundo como filho, dando-lhe plenos poderes e privilégios de Filho do
Criador do Universo, por toda a eternidade. Deus falou assim: “Deste momento em
diante, Ele castigará de forma horrível todo aquele que atormentar um vagabundo
sem amigos influentes!”
Que assim seja!
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