Primeiro, uma entrevista
com o filósofo italiano Franco Berardi, publicada no Globo em 16/03/2019. Ele começa
dizendo que:
As
novas gerações aprenderam mais palavras com as máquinas do que com suas mães. A
linguagem é, cada vez mais, uma ferramenta desprovida de dimensão afetiva e
coletiva. A precarização da vida contemporânea não resulta apenas de mudanças
no mundo do trabalho, mas também de trocas linguísticas desprovidas de afeto. A
hipertrofia digital e a quantidade exorbitante de tempo que dedicamos à
comunicação virtual estão transformando o sexo, a percepção e o desejo. Os
efeitos disso são patológicos. Depressão, ansiedade e pânico não são mais
patologias comportamentais tratadas individualmente, mas sintomas de uma
mutação antropológica.
Mas além disso, Berardi identifica
“um quê de necrofilia na glorificação contemporânea da tecnologia”. Para ele, estaríamos
“vivendo dentro do cadáver do capitalismo, e viver em uma carcaça não é
saudável para nossos corpos e mentes”.
O outro fragmento
refere-se a matéria da Folha publicada em 21/03/2019, sobre um avião da Boeing
que caiu em 10/03/2019, matando 159 pessoas na Etiópia.
Segundo a matéria, a causa
da tragédia seria a falta de atualização de um dos sistemas de orientação da
aeronave. Tratava-se de um dos itens “opcionais” pelos quais a Boeing “cobrava
uma tarifa à parte”. Acontece que companhias aéreas menores ou de baixo custo
costumam deixar de fora “atualizações opcionais”.
Talvez, o desastre aéreo
sirva como demonstração do culto à morte mediado pela tecnologia denunciado por
Berardi. Mas é preciso acrescentar que o verdadeiro deus é o lucro.
Não apenas vivemos em
uma carcaça. Nós a veneramos.
Leia
também: Desastre aéreo e cobiça
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