Doses maiores

24 de abril de 2019

Lições de um professor Munduruku

Dia do Índio é data ‘folclórica e preconceituosa’, diz Daniel Munduruku. Professor, com doutorado pela USP e pós-doutorado pela Federal de São Carlos, ele prefere ser chamado de “indígena”, que significa “originário, aquele que está ali antes dos outros”.

A afirmação inicia uma entrevista publicada pela BBC-Brasil, em 19/04/2019.

Mas, atenção, diz ele, “os indígenas não são seres do passado, são do presente”. Já a palavra índio:

...está quase sempre ligada a preguiça, selvageria, atraso tecnológico, a uma visão de que o índio tem muita terra e não sabe o que fazer com ela. A ideia de que o índio acabou virando um empecilho para o desenvolvimento brasileiro.

Mas Daniel não é apenas indígena. É Munduruku. É seu “lugar de pertencimento”. Para ele, identificar “os diferentes povos indígenas significa garantir a eles direitos e políticas específicas, não políticas genéricas.”

Quanto ao 19 de Abril, sugere que as escolas deixem “de usá-la como uma data comemorativa. É uma data para a gente refletir”:

Um Dia da Diversidade Indígena teria um impacto semelhante ao Dia da Consciência Negra, que gerou uma mudança absolutamente significativa.

Aos que afirmam que os indígenas brasileiros vivem na miséria, Munduruku responde:

Quando a gente pensa que uma pessoa é miserável porque ela não é como a gente, porque ela não frequenta shopping center, a gente está sendo não apenas preconceituoso, mas racista.

Quanto ao momento atual:

Eu não quero ser profeta do caos. Mas minha perspectiva é que as coisas vão piorar para os povos indígenas nesse governo.

Nada a comemorar. Muito o que aprender e pelo que lutar.

Leia também:
Em resposta ao incansável racismo do general Mourão
Uma rara catequização do bem

Aos mestres indígenas, com carinho

Nenhum comentário:

Postar um comentário