O
conto “O Cobrador”, de Rubem Fonseca faz parte de um livro de mesmo nome lançado
em 1979. O personagem principal explica qual é a dívida da qual se considera credor:
...está todo mundo me devendo! Estão me devendo
comida, buceta, cobertor, sapato, casa, automóvel, relógio, dentes, estão me
devendo.
A
lista inclui também:
...colégio, namorada, aparelho de som, respeito,
sanduíche de mortadela no botequim da rua Vieira Fazenda, sorvete, bola de
futebol.
Ele
descreve alguns de seus instrumentos de cobrança:
...tenho a Magnum com silenciador, um Colt Cobra 38,
duas navalhas, uma carabina 12, um Taurus 38 capenga, um punhal e um facão. Com
o facão vou cortar a cabeça de alguém num golpe só.
E
dá um exemplo de como costuma executar suas dívidas:
...o facão fazia seu curto percurso mutilante zunindo
fendendo o ar, eu sabia que ia conseguir o que queria. Brock! a cabeça saiu
rolando pela areia. Ergui alto o alfange e recitei: Salve o Cobrador! Dei um
grito alto que não era nenhuma palavra, era um uivo comprido e forte, para que
todos os bichos tremessem e saíssem da frente. Onde eu passo o asfalto derrete.
Quando
sua “cólera” está diminuindo, diz ele, “e eu perco a vontade de cobrar o que me
devem eu sento na frente da televisão e em pouco tempo meu ódio volta.”
E
conclui, “sei que se todo fodido fizesse como eu o mundo seria melhor e mais
justo”.
Após
40 anos, o livro está mais atual do que nunca. Só falta incluir no arsenal do
Cobrador um celular e uma conexão nas redes virtuais.
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