Doses maiores

29 de abril de 2019

Facão, pistola, carabina e redes virtuais

O conto “O Cobrador”, de Rubem Fonseca faz parte de um livro de mesmo nome lançado em 1979. O personagem principal explica qual é a dívida da qual se considera credor:

...está todo mundo me devendo! Estão me devendo comida, buceta, cobertor, sapato, casa, automóvel, relógio, dentes, estão me devendo.

A lista inclui também:

...colégio, namorada, aparelho de som, respeito, sanduíche de mortadela no botequim da rua Vieira Fazenda, sorvete, bola de futebol.

Ele descreve alguns de seus instrumentos de cobrança:

...tenho a Magnum com silenciador, um Colt Cobra 38, duas navalhas, uma carabina 12, um Taurus 38 capenga, um punhal e um facão. Com o facão vou cortar a cabeça de alguém num golpe só.

E dá um exemplo de como costuma executar suas dívidas:

...o facão fazia seu curto percurso mutilante zunindo fendendo o ar, eu sabia que ia conseguir o que queria. Brock! a cabeça saiu rolando pela areia. Ergui alto o alfange e recitei: Salve o Cobrador! Dei um grito alto que não era nenhuma palavra, era um uivo comprido e forte, para que todos os bichos tremessem e saíssem da frente. Onde eu passo o asfalto derrete.

Quando sua “cólera” está diminuindo, diz ele, “e eu perco a vontade de cobrar o que me devem eu sento na frente da televisão e em pouco tempo meu ódio volta.”

E conclui, “sei que se todo fodido fizesse como eu o mundo seria melhor e mais justo”.

Após 40 anos, o livro está mais atual do que nunca. Só falta incluir no arsenal do Cobrador um celular e uma conexão nas redes virtuais.

Leia também: A máquina Enigma de nossos tempos

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