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8 de junho de 2020

Racismo ianque: entre a suástica e a cruz inflamada

“O Homem do Castelo Alto” é um livro de ficção científica escrito pelo norte-americano Philip K. Dick. A trama se passa em 1962, quinze anos após o fascismo derrotar os Aliados na Segunda Guerra, ficando o território dos Estados Unidos dividido entre a Alemanha nazista e o Japão imperial.

Recentemente, o livro foi transformado em série televisiva produzida pela Amazon, exibida de 2016 a 2019. Nesta versão, aparece um personagem que não está na obra original. É Edgar J. Hoover, que foi chefe absoluto do FBI por quase quatro décadas.

No mundo distópico da série, Hoover é um dos homens de confiança da ditadura nazista que domina os Estados Unidos. Mas o que chama a atenção é que a “liberdade ficcional” adotada pela adaptação seja bastante coerente em relação à possibilidade histórica explorada por Dick.

Na vida real, à frente da polícia federal americana, Hoover foi um feroz anticomunista, chantagista, corrupto e racista. Transformou o FBI em uma polícia política aos moldes da Gestapo. E perseguiu de forma impiedosa principalmente o movimento negro e lideranças como Malcolm X e Luther King. Mas também pessoas como John Lennon, por sua oposição à Guerra do Vietnã.

Na verdade, a série apenas mostra que alguém como Hoover pode servir perfeitamente tanto à democracia supremacista e elitista de Washington como à ditadura fascista de Berlim. Hipótese confirmada por cada ação assassina e covarde do aparelho de repressão ianque contra os não brancos.

O fato é que para uma parte considerável da população norte-americana, a vitória aliada sobre os nazistas fez pouca diferença. No lugar da suástica, a cruz em chamas.

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