O inimigo sempre nos jogou nas ruas. Mas sempre tremeu ao nos ver nelas. O inimigo só nos quer nas ruas para nos explorar. O inimigo não nos quer nelas quando as tomamos com nossos protestos.
Entre as fileiras inimigas, por vezes, surgem divergências. Alguns diziam que aos escravizados devia ser proibida a diversão em seus terreiros. É neles que podiam ser coreografadas rebeliões e conjurações, afirmavam. Outros achavam útil a diversão. Elas distraíam de possíveis conspirações. E o povo irrompia nos terreiros para fazer uma coisa e outra. Dialeticamente.
A pandemia veio em boa hora, pensam alguns dos malditos: manterá o povo amedrontado. Deixem que venham, dizem outros deles: morrerá a quantidade necessária.
Para azar deles, nossos corpos são descartáveis individualmente, mas imprescindíveis coletivamente. Para o bem da saúde pública, descartáveis são eles.
Entre as fileiras aliadas também surgem divergências. Ir às ruas para sermos contaminados? Para cair em armadilhas fascistas? Para sermos vítimas da violência policial? Devemos deixar as ruas em paz?
Mas a paz jamais foi possível nas ruas. Sempre foram lugares de guerra. E não apenas em tempos de pandemia. Nos bairros pobres e na periferia, a morte pobre e não branca é epidêmica.
Deixar as ruas para quem? Para o inimigo, certamente. E para os muitos que já lá estão porque não têm como sobreviver a não ser nelas. E onde estão prontos a recebê-los os suicidas, homicidas e genocidas de verde e amarelo.
Confiar nas instituições? As instituições zombam das ruas até que sentem medo delas. Até que o que parecia impossível torna-se inevitável porque as ruas rugiram. Dialeticamente.
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