Doses maiores

3 de junho de 2020

Ora, (direis) explorar as estrelas!

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, / Perdeste o senso!", diz um famoso poema de Olavo Bilac.

Realmente, quem daria ouvidos às estrelas quando no rés-do-chão do planeta tanta gente morre e muitas ameaças assombram? Não só a pandemia, mas os problemas ambientais, a enorme desigualdade social e vários loucos à frente de governos pelo mundo.

Bom, o noticiário arranjou espaço para falar do lançamento da Demo-2, que decolou em 30/05/2020 rumo à Estação Espacial Internacional. A novidade é que a nave espacial é da SpaceX, primeira empresa privada a colocar pessoas em órbita.

A companhia foi contratada pela NASA para realizar a missão. Seu chefão é Elon Musk, também dono da Tesla e eleito pela ideologia neoliberal como um dos símbolos do empreendedorismo visionário e destemido.

Para entender melhor toda essa história não deixe de ler o artigo “O capitalismo ensaia sua distopia espacial”, de Alex Moraes, publicado no portal Outras Palavras. Nele você vai ficar sabendo que desde os anos 1960 houve algumas tentativas de estabelecer tratados internacionais que livrassem a exploração espacial da sanha do capitalismo por lucros.

Você também descobrirá que os projetos de Musk sempre contaram com muito dinheiro público. E que por trás da SpaceX está um modelo de exploração espacial tão selvagem como aquele que já vem destruindo a Terra há dois séculos.

Essa nova elite ultramoderna pretende habitar as galáxias, mas só consegue rastejar em meio aos animais mais peçonhentos já surgidos na natureza. Musk, por exemplo, apoia Donald Trump na sabotagem ao isolamento social contra a pandemia.

Diante de criaturas como essas, as estrelas só podem permanecer surdas.

Leia também: Bilionários do mundo preparam sua Arca de Noé

2 comentários:

  1. Bonito, bem poética essa Pílula. Fui lendo ela ouvindo dentro da minha cabeça a música do Caetano "Não identificado". Como grande apreciador de música deve lembrar de como é bonita a introdução dessa música, um som espacial que sugere uma esperança de futuro. Ouvi aquela música imaginando a nave no espaço "cantando uma canção de amor" e dizendo que estamos "sozinhos, apaixonados". Era nessa nave que todos devíamos estar para que não existissem esses malditos foguetes lançando seus dejetos na nossa cabeça, no momento, como vc diz "...quando no rés-do-chão do planeta tanta gente morre e muitas ameaças assombram". Bjs.

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    1. Bonito foi este comentário. Boa lembrança da canção, mas não lembrava da introdução. Legal, mesmo.

      Beijo

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