Há um certo consenso de que, uma vez superada a pandemia, a vida jamais voltará ao normal. Também deveria ser consensual que, mesmo que Bolsonaro seja derrotado, não voltaremos à normalidade anterior.
O normal de antes da pandemia era o desmatamento que a provocou. Era o caos urbano que espalhou o vírus. Era a enorme desigualdade econômica e sanitária que tornou o covid muito mais mortal entre os pobres e não brancos.
E o normal antes de Bolsonaro, era o quê? A democracia? Qual democracia e para quem?
Lá onde a pandemia faz mais vítimas ficam os mesmos lugares onde a democracia sempre foi um conceito tão conhecido quanto abstrato. Em nenhum momento, por exemplo, essa ideia impediu que a polícia continuasse matando indiscriminadamente.
Nesses locais, do mesmo modo que a democracia não estava presente quando Bolsonaro chegou, não havia um mínimo de dignidade humana quando o coronavírus atacou.
Recentemente, foi divulgado o estudo “Bolsonarismo em crise?”, coordenado pelas pesquisadoras Camila Rocha e Esther Solano. Feito com eleitores de Bolsonaro das classes C e D, o levantamento apontou um certo arrependimento entre seus entrevistados.
Mas, mesmo entre esses “arrependidos”, a maioria repetiria o voto por “falta de alternativa” e graças a um persistente antipetismo.
Comentando os resultados de seu trabalho, Esther adverte que tal como acontece com a democracia, o significado de fascismo também permanece vago. E vai ser assim enquanto continuarmos a simplesmente definir fascismo como o oposto de democracia.
Bolsonaro ainda está lá, junto com o vírus. E nós? Nós já estávamos em quarentena muito antes dos dois chegarem.
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Quer dizer, o depois não mudou tanto porque o antes já existia.
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