Doses maiores

16 de junho de 2020

Sobre estátuas e monumentos ao fascismo

Entrar em um lugar chamado “Senzala” para tomar um café é a mesma coisa que um judeu entrar em um lugar chamado Auschwitz para dormir um pouquinho.
A frase acima é de Caê Vasconcelos em reportagem sobre a recente onda de destruição de estátuas que homenageavam escravizadores, torturadores e assassinos de negros e indígenas, na Europa e Estados Unidos. Por aqui, a estátua de Borba Gato está na mira dos movimentos antirracistas.

As palavras de Caê mostram que o racismo não se limita aos monumentos. E a comparação com o famoso campo de concentração nazista está longe de ser exagerada.

Entre as principais características do fascismo estão: eliminação ou escravização daqueles considerados de raça ou cultura inferior. Roubo de seus bens e territórios. Violência desmedida contra todos os que contestam o domínio branco. Glorificação de uma pátria que acolhe apenas o um “povo eleito”. Perseguição sem tréguas a quem considera humanos e dignos de respeito e direito à liberdade todas as pessoas.

Mas os elementos acima não surgiram na Itália fascista ou na Alemanha nazista. Muito antes disso, os impérios coloniais já praticavam o fascismo sobre os povos não europeus.

Foi somente quando este dispositivo diabólico se manifestou no interior dos próprios impérios e provocou as maiores matanças da história que passou a ser considerado uma aberração a ser derrotada. Ainda assim, jamais desapareceu porque funciona como dispositivo de segurança do sistema injusto que o criou.

O fascismo que precisamos derrotar não é somente aquele que alguns brancos poderosos fingem combater. É também o dos ídolos sangrentos aos quais eles sacrificam milhões de vidas há séculos.

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