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25 de janeiro de 2023

A força exílica da autonomia zapatista

Em 12 de janeiro de 1994 entrava em vigor o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) entre México, Canadá e Estados Unidos. No mesmo dia, um grupo de indígenas declarou guerra ao governo mexicano e ocupou alguns municípios do estado de Chiapas. 

Era a insurreição do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Suas reivindicações: trabalho, terra, moradia, alimentação, saúde, educação, independência, liberdade, democracia, justiça e paz. 

Este é mais um caso que Denis O'Hearn e Andrej Grubačić abordam em seu livro “Vivendo nas Fronteiras do Capitalismo”.

O EZLN evita a violência, mas permanece uma força guerrilheira comprometida com a auto-organização territorial e a autogestão nas esferas da política, justiça, educação, saúde e economia. Sua autonomia caracteriza-se por práticas cooperativistas, organização descentralizada do território, assembleias democráticas e estruturas igualitárias de produção, distribuição e abastecimento. Ao contrário dos cossacos, sua barganha de lealdade se dá mais com a sociedade civil nacional e internacional do que com o Estado. 

Enquanto os militares mexicanos tentavam reprimir o levante, milhões de pessoas em todo o mundo exigiam a suspensão dos ataques aos zapatistas. O clima pós-Guerra Fria impossibilitou ao Estado usar força militar suficiente para aniquilar o movimento, como ocorria durante as décadas de 1970 e 1980. 

Para os autores, a persistência dos zapatistas como um espaço exílico só foi possível porque surgiu durante a crise e reestruturação da economia mundial, com uma nova hierarquia de poder hegemônico, novas lideranças econômicas e novas divisões globais e regionais do trabalho.

Certamente, um dos mais importantes fenômenos de resistência popular em muitas décadas. Voltaremos a ele, na próxima pílula.

Leia também: O espaço exílico dos cossacos do Don 

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