A edição no 10 da revista “Mouro” do Núcleo de
Estudos do Capital traz artigos muito interessantes. Entre eles, o de Lincoln
Secco sobre a Revolução de 1932, que traz a seguinte pérola:
O cidadão coronel Manuel Rabello,
Interventor Federal no Estado de São Paulo, fez expedir o seguinte aviso:
São Paulo, 26 de novembro de 1931.
(...)
Considerando que se não deve
desconhecer o alcance social e moral da mendicidade, quando ela é dignamente
exercida;
Considerando que qualquer cidadão pode
estender a mão à piedade, implorando a generosidade dos irmãos;
Considerando que quem pede, em
público, geralmente demonstra superioridade de sentimento, por ter de comprimir
o orgulho e a vaidade;
Considerando que a esmola beneficia
tanto o coração de quem a pede como o de quem dá;
Considerando que a recusa ao trabalho
não é um vício peculiar às classes pobres;
Considerando que a contemplação da
sociedade demonstra que o maior número de vadios é formado pela burguesia;
Considerando que os mendigos, vivendo
da bondade alheia, são moral e socialmente úteis, enquanto são nocivos os ricos
ociosos, que vivem em pleno desregramento moral sem nada produzirem;
(...)
Determino que ninguém, sob o simples
pretexto de exercer a mendicidade, sofra qualquer constrangimento em sua
liberdade; que, quando, por motivo insofismável de ordem, algum mendigo dever
ser afastado do ponto onde se ache, a autoridade competente o faça com todo o
cavalheirismo, ainda mais em se tratando de uma senhora, e, finalmente, que só
se procure dar asilo aos mendigos que livremente o solicitarem...
Considerando nossos atuais gestores públicos, dá uma
vergonha alheia danada!
Leia também: Vem aí o apocalipse digital. Que bom!
Por falar nessa edição, tu leu minha tradução do Boris Souvarine?
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