Doses maiores

8 de agosto de 2013

Amarildo e a banalidade do mal

"Ele sempre dizia que revidaria se fosse agredido por um policial. Dizia que trabalhador não pode levar tapa na cara e ficar quieto". Estas palavras são de Maria Eunice Dias. Ela é irmã do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde 14 de julho, depois de ser levado por soldados da PM.

Em relação ao mesmo caso, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, declarou o seguinte: “Não pode abordar um trabalhador e ele desaparecer”.

Ainda está em cartaz o filme “Hanna Arendt”, sobre a famosa filósofa e jornalista alemã. Acompanhando o julgamento de um carrasco nazista, ela concluiu que o mal pode se tornar banal. Obra de burocratas convencidos da necessidade de manter funcionando as engrenagens de uma máquina assassina.

Na produção dirigida por Margarethe von Trotta, a personagem principal afirma que a malignidade ordinária só é possível porque seus executores se transformam em “não-pessoas”. Incapazes de enxergar sua submissão criminosa, tornam-se carrascos de vítimas também rebaixadas à condição de nulidades humanas.

Esta parece ser a lógica por trás da frase atribuída a Amarildo e dita por Maria do Rosário. É a ideia de que alguém que não seja “trabalhador” torna-se uma não-pessoa. Contra ela, nossa secular máquina repressiva está autorizada a cometer o esculacho, o sequestro, a tortura, a execução.

É a banalidade do mal que se impõe tanto a pessoas do povo, como a altas autoridades. Umas e outras integram uma cadeia produtiva de não-pessoas. Mas as consequências são bem diferentes. Morte e brutalidade para as primeiras, vergonhosa cumplicidade para as segundas. 

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