"Ele sempre dizia que
revidaria se fosse agredido por um policial. Dizia que trabalhador não pode
levar tapa na cara e ficar quieto". Estas palavras são de Maria Eunice
Dias. Ela é irmã do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde 14 de julho,
depois de ser levado por soldados da PM.
Em relação ao mesmo caso, a ministra
da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, declarou o seguinte: “Não
pode abordar um trabalhador e ele desaparecer”.
Ainda está em cartaz o filme
“Hanna Arendt”, sobre a famosa filósofa e jornalista alemã. Acompanhando o
julgamento de um carrasco nazista, ela concluiu que o mal pode se tornar banal.
Obra de burocratas convencidos da necessidade de manter funcionando as
engrenagens de uma máquina assassina.
Na produção dirigida por Margarethe
von Trotta, a personagem principal afirma que a malignidade ordinária só é
possível porque seus executores se transformam em “não-pessoas”. Incapazes de
enxergar sua submissão criminosa, tornam-se carrascos de vítimas também
rebaixadas à condição de nulidades humanas.
Esta parece ser a lógica por
trás da frase atribuída a Amarildo e dita por Maria do Rosário. É a ideia de
que alguém que não seja “trabalhador” torna-se uma não-pessoa. Contra ela,
nossa secular máquina repressiva está autorizada a cometer o esculacho, o sequestro,
a tortura, a execução.
É a banalidade do mal que se
impõe tanto a pessoas do povo, como a altas autoridades. Umas e outras integram uma cadeia produtiva de não-pessoas. Mas as consequências são
bem diferentes. Morte e brutalidade para as primeiras, vergonhosa cumplicidade para as segundas.
Leia também: A Casa Grande ainda
massacra
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