O General
Mourão, em mais uma declaração infeliz, afirmou que os negros são malandros e
os indígenas indolentes.
Em 12/08/2018, o colunista Reinaldo José Lopes publicou na Folha uma boa resposta a essas
maluquices. Lembrou um relato de Antonio Pires de Campos, de 1723,
segundo o qual, os indígenas Parecis eram “incansáveis” em suas lavouras, sempre plantadas em “admirável ordem”. Além disso, construíam estradas “muito direitas
e largas”, conservando-as “tão limpas e consertadas que se lhe não achará nem
uma folha.”
Lopes
também pergunta que malandragem africana teria “levado guerreiros negros do
atual Sudão a conquistar todo o orgulhoso Egito dos faraós por volta de 700
a.C.?” Ou a fazer com que o povo shona, na Idade Média, tenha construído “a
poderosa cidade de pedra do Grande Zimbábue, com tamanho e complexidade que
nada deviam às maiores cidades europeias medievais?”
Mas voltando
à suposta indolência indígena, também seria bom lembrar uma importante obra de Jorge
Caldeira, lançada em 2017. Em “História da Riqueza no Brasil” o historiador afirma,
por exemplo, que:
… os
Tupi-Guarani mantinham um tal equilíbrio entre produção econômica, alianças
diplomáticas, chefia política na guerra e destinação ritual dos excedentes que
não os obrigava a criar uma função especializada de governo, com a permanente
divisão dos membros da sociedade entre governantes e governados. Mesmo assim
havia governo: as instituições indicadas pelo costume funcionavam com
regularidade e desfrutavam do respeito de todos.
Respeito de
todos é algo de que o general, certamente, jamais vai desfrutar devido a sua incurável mentalidade racista. Produto de séculos de preguiça mental e estupidez
incansável.
Pois é, meu caro, em nosso país, foram os "negros malandros" (sic 'general') que, com sua MONUMENTAL FORÇA DE TRABALHO, violentamente oprimidos por um 'modo de produção escravista' (Gorender), CONSTRUÍRAM E PRODUZIRAM TUDO durante praticamente quatro séculos. Ignora também, como militar, decerto por racismo, como você bem demarca, a história do Negro nas lutas e até mesmo nas FFAA, desde a Guerra do Paraguai. Se ele ao menos se desse ao prazer de visitar a Floresta da Tijuca (Parque Nacional da Tijuca, RJ) teria a chance de constatar o resultado do belo trabalho humano de negros e negras no reflorestamento de uma terra arrasada pelo plantio do café (causa, à época de Pedro II, de uma grave crise de abastecimento de água no Rio). Ademais, porque violenta a história com seus coturnos, passa por cima do processo de estruturação produtiva do capital que, no raiar da "abolição", empurrou os/as trabalhadores/as negros/as, sobretudo no Rio de Janeiro, capital da República, para as franjas do mercado de força trabalho nascente, desde o final do século XIX; contexto em que floresce o personagem "malandro" carioca - mas aí já é outra história, para uma conversa mais longa. Abraço fraterno.
ResponderExcluirÉ isso, meu caro. Uma história bonita, apesar de dolorida, escondida por trás de palavras grosseiras de gente rude como esse general.
ExcluirGrande abraço!