Doses maiores

13 de agosto de 2018

Em resposta ao incansável racismo do general Mourão

O General Mourão, em mais uma declaração infeliz, afirmou que os negros são malandros e os indígenas indolentes.

Em 12/08/2018, o colunista Reinaldo José Lopes publicou na Folha uma boa resposta a essas maluquices. Lembrou um relato de Antonio Pires de Campos, de 1723, segundo o qual, os indígenas Parecis eram “incansáveis” em suas lavouras, sempre plantadas em “admirável ordem”. Além disso, construíam estradas “muito direitas e largas”, conservando-as “tão limpas e consertadas que se lhe não achará nem uma folha.”

Lopes também pergunta que malandragem africana teria “levado guerreiros negros do atual Sudão a conquistar todo o orgulhoso Egito dos faraós por volta de 700 a.C.?” Ou a fazer com que o povo shona, na Idade Média, tenha construído “a poderosa cidade de pedra do Grande Zimbábue, com tamanho e complexidade que nada deviam às maiores cidades europeias medievais?”

Mas voltando à suposta indolência indígena, também seria bom lembrar uma importante obra de Jorge Caldeira, lançada em 2017. Em “História da Riqueza no Brasil” o historiador afirma, por exemplo, que:

… os Tupi-Guarani mantinham um tal equilíbrio entre produção econômica, alianças diplomáticas, chefia política na guerra e destinação ritual dos excedentes que não os obrigava a criar uma função especializada de governo, com a permanente divisão dos membros da sociedade entre governantes e governados. Mesmo assim havia governo: as instituições indicadas pelo costume funcionavam com regularidade e desfrutavam do respeito de todos.

Respeito de todos é algo de que o general, certamente, jamais vai desfrutar devido a sua incurável mentalidade racista. Produto de séculos de preguiça mental e estupidez incansável.

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2 comentários:

  1. Pois é, meu caro, em nosso país, foram os "negros malandros" (sic 'general') que, com sua MONUMENTAL FORÇA DE TRABALHO, violentamente oprimidos por um 'modo de produção escravista' (Gorender), CONSTRUÍRAM E PRODUZIRAM TUDO durante praticamente quatro séculos. Ignora também, como militar, decerto por racismo, como você bem demarca, a história do Negro nas lutas e até mesmo nas FFAA, desde a Guerra do Paraguai. Se ele ao menos se desse ao prazer de visitar a Floresta da Tijuca (Parque Nacional da Tijuca, RJ) teria a chance de constatar o resultado do belo trabalho humano de negros e negras no reflorestamento de uma terra arrasada pelo plantio do café (causa, à época de Pedro II, de uma grave crise de abastecimento de água no Rio). Ademais, porque violenta a história com seus coturnos, passa por cima do processo de estruturação produtiva do capital que, no raiar da "abolição", empurrou os/as trabalhadores/as negros/as, sobretudo no Rio de Janeiro, capital da República, para as franjas do mercado de força trabalho nascente, desde o final do século XIX; contexto em que floresce o personagem "malandro" carioca - mas aí já é outra história, para uma conversa mais longa. Abraço fraterno.

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    1. É isso, meu caro. Uma história bonita, apesar de dolorida, escondida por trás de palavras grosseiras de gente rude como esse general.
      Grande abraço!

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