O trabalho escravo está
presente em grande parte da história humana, adverte Laurentino Gomes no
primeiro volume do que virá a ser a trilogia “Escravidão”. Mas:
A
história da escravidão na América se distingue das formas mais antigas de
cativeiro por duas características principais. A primeira é o regime de
trabalho. No passado, os escravos eram usados em serviços domésticos...
No entanto, também podiam
desempenhar funções especializadas como as de marceneiros, ferreiros, agricultores,
guerreiros. Em alguns casos, diz ele, chegaram a ocupar altos cargos
administrativos, como os de escriba e tesoureiro.
Já na América, afirma,
tornaram-se sinônimo de trabalho intensivo em grandes plantações e na mineração.
Seu trabalho era organizado “de forma muito semelhante às linhas de produção”
que, mais tarde, caracterizariam as fábricas da Revolução Industrial.
A outra característica
era uma ideologia racista, que passou a associar a cor da pele à condição de
escravo. Uma doutrina sustentada por evidências “pretensamente científicas, que
se referiam não apenas às diferenças relacionadas à cor da pele, mas também a
alguns traços anatômicos peculiares”.
A questão é que essa ideologia
começou a se mostrar contraditória em relação às ideias igualitárias que começavam
a ganhar força quando os navios negreiros ainda atravessavam os mares. Era o
liberalismo burguês, que tem no filósofo John Locke um de seus grandes formuladores.
Acontece que o próprio
Locke era acionista da Royal African Company, cujo único propósito era traficar
escravos. Um exemplo claro de como o discurso sobre liberdade, fraternidade e
igualdade nunca se livrou do “sangue e da lama” que, segundo Marx, manchou o
nascimento e ainda marca a sustentação do capitalismo.
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