Doses maiores

8 de janeiro de 2020

Acorrentados à hipocrisia de nossa época

“Provavelmente não existe hoje nenhum grupo de pessoas cujos ancestrais nunca tenham sido em algum momento escravos ou donos de escravos”, afirma Laurentino Gomes em seu livro “Escravidão”.

Realmente, o trabalho escravo sempre esteve presente na história humana. Aristóteles era senhor de escravos. Thomas Jefferson e Tiradentes, também.

Mas Aristóteles afirmou em seu tratado sobre política que a “humanidade se divide em duas: os senhores e os escravos; aqueles que têm o direito de mando e os que nasceram para obedecer”.

Já o herói nacional estadunidense e seu equivalente brasileiro, são símbolos de uma época cujos valores maiores são a igualdade, a fraternidade e a liberdade humanas.

O filósofo John Locke foi grande defensor e propagador desses valores. Gomes cita uma de suas frases mais famosas: "A verdadeira liberdade consiste em não estar sujeito à vontade inconstante, incerta, desconhecida e arbitrária de um outro ser humano".

Apesar da beleza dessas palavras, Locke era acionista de uma companhia de tráfico negreiro, lembra o autor.

Em uma das cenas mais marcantes de sua presidência, Barack Obama canta “Amazing Grace” em um funeral, em 2015. O compositor desse belo hino protestante é John Newton, capitão de navio negreiro.

É essa enorme hipocrisia que diferencia nossa época em relação às outras quando se trata da servidão humana. Afinal, informa Gomes, estima-se:

...que existam, hoje, mais escravos no mundo do que em qualquer período durante os 350 anos de escravidão africana na América. Seriam 40 milhões de pessoas vivendo nessas condições — ou seja, mais do que o triplo do total de cativos traficados no Atlântico até meados do século XIX.

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