Doses maiores

5 de agosto de 2013

Vandalismo e chifres

Os vândalos foram invasores que saquearam Roma quando esta era capital de um império já decadente e indefeso. Eles cometeram na poderosa cidade o mesmo que os romanos faziam em muitos lugares que conquistavam. Saquearam e destruíram monumentos e obras de arte por desprezo e para se apoderar dos materiais valiosos de que eram feitos.

Desde então, são chamados de vândalos aqueles que não respeitam a arte e a cultura consideradas superiores. Mesmo que tal superioridade tenha se estabelecido à custa de muito sangue e destruição. Afinal, como disse Walter Benjamin, “nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento de barbárie”.

Recentemente, atos de “vandalismo” ganharam destaque durante os grandes protestos que tomam as ruas desde junho. Em um deles, manifestantes desenharam chifres em um retrato pendurado na câmara municipal carioca. Trata-se do coronel Moreira César, um dos comandantes das tropas enviadas para massacrar a comunidade de Canudos, no final do século 19. Lugar em que o militar merecidamente encontrou a morte.

Naquela mesma casa legislativa está sendo instalada uma CPI sobre as empresas de ônibus, acusadas de cobrar muito caro por serviços de péssima qualidade. Dos cinco integrantes da comissão, quatro eram contra sua instalação e são da base do governo municipal. Muito provavelmente, receberam gordas doações dos proprietários dos coletivos em suas campanhas eleitorais.

Pergunta-se: o que ofende mais a dignidade pública? Chifres rabiscados na cabeça pintada de um assassino fardado ou os chifres simbólicos, mas doloridos, que os senhores parlamentares tentam colocar nas testas da grande maioria da população carioca?

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