Doses maiores

15 de julho de 2020

A pandemia do vírus e o pandemônio das informações

Dizem que a Gripe Espanhola surgiu nos Estados Unidos, em 1918. Mas como o país encontrava-se envolvido na Primeira Guerra, a divulgação de sua existência foi proibida.

Quando a doença chegou à Europa, provavelmente junto com as tropas estadunidenses, a censura continuava. Somente na Espanha, que não estava em guerra, os casos começaram a ser relatados e a gripe ganhou uma pretensa nacionalidade.

Esta situação mostra como a mais mortal pandemia que já existiu teve problemas com a circulação de informações. Mesmo que não houvesse censura, os meios de comunicação tinham um alcance muito menor e eram muito menos onipresentes.

Mas se há alguma coisa que não se pode dizer sobre a atual pandemia, é que faltam informações sobre ela. As revistas cientificas especializadas, por exemplo, sempre cobraram pelo acesso a seus artigos. Mas diante da gravidade da situação, a grande maioria delas abriu seus arquivos eletrônicos.

Essa medida, por um lado, facilita e acelera a realização de novos experimentos. Por outro, amplia o risco de conclusões precipitadas e a adoção de tratamentos duvidosos e temerários. Mas aqui ainda estamos em um nível mínimo de racionalidade.

A circulação de informações assume um caráter patológico mesmo é nas redes virtuais. Os mais variados e disparatados rumores, boatos, falsidades, circulam pelos meios digitais. Fortemente potencializados, claro, por poderosas forças políticas e econômicas cujos interesses se contrapõem à saúde pública e ao bem coletivo.

O coronavírus surgiu quando a chamada “esfera pública” já se encontrava tomada pela praga das mentiras, falsidades, fanatismos e discursos de ódio. O pandemônio das informações colabora para tornar a pandemia ainda mais grave.

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