Doses maiores

21 de julho de 2020

Sobre a convivência virtual e a brutalidade policial

Nove segundos: a isso ficou reduzida nossa capacidade de atenção. É o que sugere a tese desenvolvida por Bruno Patino em seu novo ensaio, La Civilisation du Poisson Rouge (“A Civilização do Peixe Vermelho”, inédito no Brasil), em que adverte para os perigos desse alarmante déficit de concentração, praga da sociedade moderna provocada pelos gigantes da Internet com sua perpétua difusão de links, imagens, likes, retuítes e outros estímulos para nosso sistema nervoso.


O trecho acima é de uma reportagem publicada pelo El País, em 20/07/2020.

O face a face implica a presença física das faces, e não das costas ou dos ombros, como em uma multidão cujas possibilidades de estabelecer e de manter contato são tão numerosas que é difícil identificá-las.

Já as palavras acima são de Joëlle Zask, em artigo cujo título diz tudo: “A comunicação virtual: o novo ópio do povo?”

Filósofa da Universidade de Aix-Marselha, na França, Joëlle considera que “fundar um projeto de sociedade baseado em relações virtuais por intermédio da internet é destruir a sociedade”.

Se pensarmos no que afirmam os dois estudiosos acima, é possível esperar que a pandemia aprofunde ainda mais o processo de extrema desorganização da resistência social que já estava em curso.

Afinal, se há uma coisa que escapa dessa lógica é o peso radicalmente concreto da repressão policial sobre os setores sociais dominados. Cada vez que tentaram se rebelar jamais lhes foi permitido esquecer que seus corpos doem e sangram sob o efeito de cassetetes e balas. Assim como sempre foram obrigados a concentrar toda a sua atenção na defesa de sua integridade física.

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