A obra relata situações que se mostram tristemente atuais. Uma delas, por exemplo, opõe “contagionistas” a “infeccionistas”. Basicamente, os primeiros “recomendavam medidas como quarentenas para navios que chegavam ao porto e isolamento rigoroso do doente em hospitais estabelecidos em locais distantes do centro da cidade”.
Já os segundos, “consideravam tais providência ineficazes e advogavam medidas mais abrangentes”. Entre elas, as reforma urbanas realizadas em várias “cidades ocidentais na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX”.
Prevaleceram as posições dos “infeccionistas”, que levaram à derrubada violenta das habitações pobres da cidade e à consequente reação popular com a famosa Revolta da Vacina.
Mas no centro da polêmica estava um elemento fundamental: as quarentenas. “A classe ascendente de comerciantes e industriais” viam nelas “uma fonte de prejuízo econômico e uma arma intolerável do controle burocrático”. Esta classe, continua ele:
...com seus políticos e representantes na imprensa, estaria naturalmente por trás daqueles que argumentavam que não havia fundamento científico para as quarentenas. Em suma, o contagionismo, estando associado à ampliação do poderes das burocracias governamentais, tornara-se suspeito aos apologistas da ideologia liberal - interessados estes na superação de entraves ao livre desenvolvimento das relações de mercado.
Ou seja, antes como agora, danem-se as vidas. O importante é a economia. Mas se já não se trata de combater vacinas, não faltam motivos para uma nova revolta.
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