Doses maiores

23 de julho de 2020

Contra o racismo, a luta acima da esperança

Abaixo, mais trechos do livro “Entre o mundo e eu”, do escritor afro-americano Ta-Nehisi Coates. A obra é um duro, comovente, mas belo relato autobiográfico escrito para seu filho de 15 anos.

Às vezes nos deparamos com uma situação bem ruim. Mas quer se lute, quer se corra, devemos fazer isso juntos, porque essa é a parte que está sob nosso controle. O que nunca devemos fazer é entregar voluntariamente nossos corpos ou os corpos dos nossos amigos. Esta é a sabedoria: (...). Essa sabedoria não é exclusiva do nosso povo, mas acho que tem um sentido especial para aqueles de nós que nasceram de um estupro em massa, cujos antepassados foram levados à força, distribuídos como apólices e ações. Eduquei você para respeitar todo ser humano, e você deve estender o mesmo respeito ao passado. A escravidão não é uma indefinível massa de carne. É uma mulher escravizada particular e específica, com uma mente tão ativa quanto a sua, com sentimentos tão vastos quanto os seus.

(...)

Talvez nossas conquistas nem sejam a verdadeira questão. Talvez tudo que tenhamos seja a luta, porque o deus da história é ateu, e nada que diga respeito ao seu mundo, à história, deveria necessariamente ser como é. Assim, você deve acordar toda manhã sabendo que nenhuma promessa é isenta de ser quebrada, e menos ainda a promessa de simplesmente acordar. Isso não é desespero. Essas são as preferências do próprio universo: verbos acima de substantivos, ações acima de estados, luta acima da esperança.

Desnecessário dizer que se trata de um livro cuja leitura é obrigatória.

Leia também: A pedagogia racista da brutalidade contra crianças

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