Quem é oprimido precisa saber mais, suas vidas dependem disso. É o paradoxo do poder. As mulheres conhecem o mundo dos homens de um jeito que homens nunca precisam aprender sobre o mundo das mulheres. O escravizador não precisa viver no mundo do escravizado. E o escravizado, por estar muito mais perto do perigo e da morte, precisa saber certas verdades sobre o mundo.
As palavras acima são do escritor estadunidense Ta-Nehisi Coates, que acaba de lançar “A Dança na Água” no Brasil. Ele também escreveu “Entre o Mundo e Eu”, considerado uma obra-prima por sua conterrânea e Nobel de literatura, Toni Morrison.
O depoimento faz pensar no que dizia o filósofo George F. Hegel sobre a dialética entre senhor e escravo. Segundo ele, nessa relação nenhum dos dois se realiza como ser humano. Se o escravo é prisioneiro, a liberdade do senhor está limitada pela necessidade de manter vigilância constante.
Mas o único que pode romper essa relação é o escravo. Ele está voltado para a luz. O senhor, para a escuridão. Em sua luta, o escravo necessita usar toda a criatividade de que o ser humano é capaz. Ao senhor resta a função estéril da dominação.
Portanto, se há alguma possibilidade de sairmos da escuridão, ela está sempre ao lado dos dominados, jamais dos déspotas.
Por outro lado, há sempre o risco de que de tanto olhar para seu opressor, o oprimido não apenas incorpore sua lógica, como torne-se seu mais encarniçado defensor. É assim que o fascismo funciona e é isso o que estamos vivendo agora.
Ainda assim, permaneceremos voltados para a luz.
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