Doses maiores

13 de julho de 2020

No capitalismo, a ingratidão fez-se regra e mandamento

“Por que os ricos podem ser indiferentes ao crescimento da renda em seus próprios países?” é o título de um artigo de Branko Milanovic que andou circulando em algumas bolhas virtuais da esquerda esta semana.

Milanovic foi economista-chefe do Banco Mundial e é conhecido por seus estudos sobre distribuição de renda e desigualdade. O pequeno texto é de 2016 e está em inglês. Mas um parágrafo dá uma ideia sobre suas conclusões:

O que pretendo é observar os ganhos de renda que os ricos podem obter em um aumento geral da renda nacional (mantendo a distribuição inalterada) versus os ganhos que eles podem obter de um aumento ainda maior da distribuição de renda (mantendo a renda média igual). Mostrarei que esse “trade-off” específico varia em função da classe de renda e que, especialmente para as classes de renda mais altas, os ganhos de maior desigualdade tendem a ser desproporcionalmente altos em comparação aos ganhos de um aumento da renda geral sem uma alteração na distribuição.

Ou seja, ao contrário do que muita gente pensa, os muito ricos não se beneficiam de uma maior distribuição geral de renda. Portanto, a enorme concentração de riqueza vigente não é produto de sua cegueira egoísta. É o próprio modo normal de funcionamento do sistema.

Lembra uma famosa passagem dos Evangelhos, em Mateus 13:12: “Porque àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado”.

A diferença é que a passagem bíblica refere-se à gratidão. Já em nosso caso, trata-se da ingrata e infernal máquina capitalista de desigualdade e injustiça.

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