Doses maiores

24 de abril de 2020

Qualityland: uma distopia com cara de realidade

O escritor alemão Marc-Uwe Kling acaba de lançar a edição brasileira de “Qualityland”. O livro faz uma sátira inteligente e divertida, ao imaginar uma sociedade em que seríamos dominados pelas máquinas e seus algoritmos.

Qualityland é um país surgido após “uma crise econômica tão severa que ficou conhecida como a crise do século”. Entre suas muitas esquisitices está o aplicativo “MeAvalie”, que estabelece um sistema de qualificação social que vai de 1 a 100. Mas...

...segundo rumores, o nível mais baixo é o Nível 2. Parece que ninguém é classificado no Nível 1, para que as pessoas do Nível 2 achem que ainda há alguém abaixo delas. O medo da queda é considerado útil porque as pessoas que pensam que não têm nada a perder são perigosas. O nível mais alto é 100. Embora, presumivelmente, também não haja pessoas nesse nível, para que as pessoas do Nível 99 acreditem que ainda há espaço para melhorias, já que ainda têm alguém acima delas
Com base nesse “ranking”, os bancos concedem crédito ou não. Os empregadores contratam o candidato ao emprego ou não.

Muitas lojas, restaurantes e clubes só abrem suas portas automáticas para pessoas acima de um determinado nível. A polícia está autorizada a parar, revistar e deter qualquer pessoa abaixo de certa classificação.

Pessoas com nível de apenas um dígito são chamados, extraoficialmente, de “Inúteis".

Outra curiosidade: os sobrenomes sempre fazem referência à profissão da pessoa. Por exemplo, Daniel Dentista, Vanessa Balconista ou Margareth Oftalmo. Mas a família mais numerosa é a dos Sem Trabalho.

O livro pretende ser uma distopia. Talvez não seja.

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