Doses maiores

20 de setembro de 2013

Uma voz negra, poderosa e comunista

Imagine um negro que cantava bonito com sua poderosa voz de baixo. Um estadunidense que também foi atleta profissional de futebol americano e bom jogador de baseball e basquete.

Este mesmo personagem era ótimo ator de teatro, cinema e musicais. Foi simplesmente o primeiro ator negro a interpretar o personagem Otelo, de Shakespeare.

No cinema, provocou polêmica em “Imperador Jones”, lançado em 1933. O personagem que interpretava matava um homem branco. Algo inadmissível para o racismo estadunidense.

Não fosse o bastante, também foi o terceiro negro a ingressar numa universidade americana. Nada era o bastante para Paul Robeson, um descendente de nigerianos, camaroneses e guinéu-equatorianos, nascido em Princeton, em 1898.

Para deixar os racistas e conservadores em geral ainda mais irritados, Robeson era comunista. O que acabou por render-lhe as piores perseguições. Sua ficha no FBI era a mais extensa entre os artistas investigados.

Em 1956, foi obrigado a depor diante do Comitê de Atividades Antiamericanas. Ele foi firme:

Não estou sendo julgado por ser comunista. Estou sendo julgado por lutar pelos direitos do meu povo, por aqueles que ainda são considerados cidadãos de segunda classe nos Estados Unidos da América.

Recusou-se a assinar uma declaração renegando suas ideias. Ficou no ostracismo, claro. Mas em 1958 voltou coberto de glórias em um grande concerto no Carnegie Hall. Continuou com sua carreira musical até 1965, quando se aposentou.

Robeson morreu em 1976, muito longe de ver a justiça social triunfar em seu país. Um negro governa os Estados Unidos, hoje. Mas sua voz é a de um boneco sentado no colo do imperialismo.

Ouça Robeson aqui.


Leia também: Harriet Tubman, a libertadora negra

Nenhum comentário:

Postar um comentário