“Gotejamento” é o nome de uma famosa receita
do Banco Mundial para a pobreza. Segundo ela, os pobres ficariam com o que pinga dos
suculentos lucros das grandes corporações econômicas. No Brasil, a fórmula ganhou
imagem culinária. Durante a ditadura militar, dizia-se: “primeiro, é preciso deixar
o bolo crescer. Só depois, dividir”.
Parece que os governos posteriores
continuaram a pensar o mesmo. No período lulista, não faltou fermento e farinha.
É só conferir os números do artigo “O fim da festa nos emergentes”, de Ricardo
Hausmann, publicado recentemente no Valor. Entre
2003 e 2011, enquanto países como Estados Unidos, Reino Unido e Japão cresceram na
casa dos 30%, a economia brasileira se expandiu 348%!
Mas que parte desse enorme bolo
coube à maioria da população brasileira? Lucianne Carneiro Cleide Carvalho responde em sua
matéria “Novo mapa dos negócios”, publicada no Globo em 12/09: “Após crise,
receita das 50 maiores empresas do Brasil cresceu o dobro do avanço do PIB”.
Ao mesmo tempo, reportagem
publicada na revista Exame em 09/09 diz: “124 pessoas mais ricas do Brasil
correspondem a 12,3% do PIB”. Esta minoria microscópica acumula “um patrimônio
equivalente a R$ 544 bilhões”. Ou seja, se alguém se lambuzou comendo não foram
os trabalhadores.
O tal “gotejamento” parecia
estar funcionando até junho passado. De repente, algo fez o copo transbordar e multidões
inundaram as ruas. Lembrando a bela canção de Chico Buarque, quando se trata de
um pote até aqui de mágoa, qualquer desatenção pode ser a gota d'água.
Leia também: Dez
anos de Bolsa Família: parabéns, Banco Mundial!
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