As manifestações populares continuam. Agora,
reforçadas por greves como a dos educadores municipais cariocas, com suas belas
assembleias ao ar livre. Mas os protestos permanecem isolados e descoordenados.
Por isso, há quem fale em “cacafonia das ruas”.
A imagem não é necessariamente negativa. E
o fenômeno nem é tão recente. Um texto que Gramsci escreveu nos anos 30 também a
utiliza. Em um trecho que destaca a importância de passar do “consenso passivo e indireto” ao “consenso ativo
e direto”, ele afirma:
... a participação dos
indivíduos dá origem a uma aparência de desagregação e de desordem. Uma consciência
coletiva é, com efeito, um organismo vivo, ela só se forma depois da
multiplicidade se ter unificado através da atividade dos indivíduos... Numa
orquestra que está a ensaiar, cada instrumento a tocar sozinho dá a impressão
da mais horrível cacofonia; e, no entanto, estes ensaios são a condição da
existência da orquestra como um instrumento único. (Note sul Machiavelli, sulla
politica e sullo Stato moderno).
Nas manifestações que tomaram as ruas espanholas
em 2011, essa imagem ganhou realidade literal. Em maio daquele ano surgiu o
Coro e Orquestra Solfônica, formados por músicos profissionais e amadores. Na
greve geral europeia de 14 de novembro do ano seguinte, a Solfônica tocou em
meio à violenta repressão policial nas ruas de Madri.
A orquestra a
que Gramsci se referia era naturalmente o partido revolucionário. Mas este
coletivo plural que deve tocar como um instrumento
único ainda está por ser construído aqui e em muitos outros lugares. Mas não
tem jeito. Sem ensaios, é difícil que a música preste.
Clique aqui
e veja a Solfônica em ação.
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