Doses maiores

18 de setembro de 2013

Maquiavel e Zé Dirceu

Em 2013, completam-se os 500 anos desde que Nicolau Maquiavel concluiu “O Príncipe”. A obra praticamente inaugurou a ciência política moderna. Meio milênio depois, continua extremamente válida.

O Instituto Humanitas Unisinos publicou uma revista sobre o tema. Trata-se de “A política desnudada. Cinco séculos de O Príncipe, de Maquiavel”, lançada em 16/09. Na edição, em entrevista a Márcia Junges, o filósofo António Bento cita Trajano Boccalini, pensador do século 17:

Os inimigos de Maquiavel consideram-no homem digno de punição porque revelou como os príncipes governam e, assim, instruiu o povo; “colocou dentes de cães nas ovelhas”.

O entrevistado também cita Diderot, para quem o autor de “O Príncipe” teria pintado a verdadeira face do poder desse modo: ”eis o animal feroz ao qual vos abandonareis”.

Por isso, o livro de Maquiavel foi tão censurado e perseguido. Seus inimigos se vingaram confundindo a obra com seu autor. Ser maquiavélico virou sinônimo de político inescrupuloso, autoritário, amoral, cínico, corrupto.

Se há alguém que mereça tais qualificações, hoje, é José Dirceu. Mas tal como aconteceu com o autor italiano, o dirigente petista não inventou a política suja e sem freios morais. Esta forma porca de realismo político tem, no Brasil, a mesma idade do livro de Maquiavel.

O grande erro de Dirceu foi agir como seus antecessores para atingir objetivos pretensamente justos. Seu maior crime, fazer o que fez em nome de propósitos de esquerda. Com isso, facilitou o trabalho daquele animal feroz a que se referiu Diderot.

A esquerda não precisa criar seus próprios lobos. Deve aprender com Maquiavel a colocar dentes de cães nas ovelhas.

2 comentários: