Em 05/07, o IHU On-Line publicou entrevista com Gabriel
Feltran, professor de
Sociologia da Universidade Federal de São Carlos. Ele estuda as relações
conflituosas entre família, mercado de trabalho, igrejas, políticas sociais,
crime e Estado.
Em relação à expansão da criminalidade entre os mais
pobres, Feltran destaca as desigualdades econômicas. Afinal, diz ele, vivemos
uma realidade em que “uns criam os filhos com meio salário mínimo mensal”, enquanto
“outros andam de helicóptero e gastam dois salários mínimos em um jantar”.
Mas o entrevistado recusa a abordagem economicista dos
conflitos sociais. Afinal, afirma ele, se há “jovens inscritos no tráfico que
pensam apenas no dia de hoje, gastam mil reais em uma noite”, também há os que “trabalham
durante o dia e estudam à noite, pagando prestações de carro, casa e
eletrodomésticos”.
Para ficar ainda mais claro, outra afirmação:
O rapaz negro que trabalha no shopping
como segurança e faz faculdade à noite ou o filho de operário que ingressou por
ação afirmativa na universidade pública não têm visões de mundo iguais às do
‘irmão’ do PCC ou do pastor da Igreja Universal, ou ainda de um soldado da
Polícia Militar. E eles podem estar na mesma família, porque os projetos de
vida são mais individualizados e o mercado de trabalho mais segmentado.
Polícia, crime, igreja e trabalho são esferas de vida que se interpenetram.
Ou seja, a realidade dos mais pobres é tão tridimensional
como qualquer outra. Que a direita não entenda isso, compreende-se. Que a maior
parte da esquerda faça o mesmo, só mostra que chata e pobre, mesmo, é sua visão
de mundo.
Leia também: Jessé Souza e a necessária sociologia das subjetividades
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