De volta ao livro "A Tolice da
Inteligência Brasileira", de Jessé Souza. Agora para falar sobre o que o
autor considera “uma forma velada – e, portanto,
especialmente perigosa – de ‘racismo’”.
É o “racismo culturalista”, que, diferente
do “racismo de cor”, defende a ideia de que certo “‘estoque cultural” é a causa
e a “legitimação da desigualdade entre indivíduos e nações”.
Segundo essa visão, diz Souza, as
“sociedades avançadas” seriam mais “racionais” e “moralmente superiores”. Já
sociedades como as latino-americanas seriam “afetivas e passionais”. Consequentemente,
corruptas, “dado que supostamente ‘personalistas’”.
Este tipo de discriminação teria
raízes no que Souza chama de “culturalismo liberal”. Uma concepção que passou
a hegemonizar a sociologia nacional a partir das obras de Gilberto Freyre, Sérgio
Buarque de Hollanda e Raymundo Faoro.
Esse culturalismo se basearia em uma
idealização das esferas culturais “tidas como reservatórios da confiança
interpessoal”. Nele os “estímulos simbólicos” aparecem desligados das
instituições fundamentais da dominação social.
Segundo essa lógica, as sociedades
“se dividiriam entre decentes e corruptas”. E os habitantes destas últimas são vistos
como potencialmente indignos de confiança.
Um exemplo são as nossas taxas de
juros, mantidas em níveis estratosféricos devido a supostas dificuldades dos
brasileiros em “honrar seus compromissos”. Como se a grande maioria dos caloteiros
não fossem pessoas brancas, ricas e com ascendência europeia.
Esse racismo culturalista torna ainda
mais “opacos” os mecanismos de classificação e desclassificação social próprios
de qualquer sociedade capitalista, afirma o autor. Desse modo, o que é privilégio
de classe aparece como produto de esforço individual e mérito pessoal.
O autor diz que é racismo cultural,
mas pode chamar de racismo meritocrático.
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